Janeiro de 2011. Dana White, presidente do UFC, a maior liga de MMA do mundo, saía de um restaurante em Los Angeles quando foi abordado por um grupo de jornalistas. Perguntado sobre quando mulheres lutariam em sua organização, ele foi taxativo: “Nunca”. Corre o filme para julho de 2016. Um dos eventos mais aguardados do ano, o UFC 200, perde seu lutador principal, pego no doping. O que faz o mesmo Dana White? Prontamente alça ao título de principal luta da noite o combate entre a então campeã mundial, Miesha Tate, e a brasileira Amanda Nunes. Diante de 18 mil pessoas, em Las Vegas, o título passou para a mão de Amanda, e o Brasil ganhou sua primeira mulher campeã do UFC. A finalização perfeita de Leoa, como ela é conhecida, demorou apenas três minutos e 16 segundos. Já a entrada das mulheres no mundo masculino do UFC, muito mais.
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O que aconteceu em cinco anos que fez Dana trocar tanto de ideia em relação a lutas femininas? “Infelizmente, acho que a resposta passa pelo machismo”, afirma Alexandre Matos, editor do site MMA Brasil e um dos maiores entendedores do esporte no país. “Quem mudou a cabeça de Dana White e levou o MMA feminino para o UFC foi Ronda Rousey.” Ronda é uma lutadora americana loira, linda, que divide seu tempo entre treinar duríssimo para aplicar golpes certeiros em suas adversárias e gravar filmes para Hollywood, como Velozes e Furiosos 7. “Ela é bonita, agressiva e talentosa, com uma postura que mistura um tanto de arrogância, prepotência e autoconfiança, além do passado de medalhista olímpica”, opina Alexandre.
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O próprio presidente do UFC não esconde que Ronda era o “pacote completo”. Uma vez com o lugar no UFC garantido por ela, as meninas se tornaram queridas por dificilmente entregarem uma luta monótona. “Isso se reverteu em audiência e venda de pay-per-view”, diz Alexandre sobre o fato de os combates femininos geralmente serem movimentados, com muita troca de golpes. Das últimas quatro edições do evento, três tiveram suas lutas principais comandadas por mulheres. Atualmente, há 59 garotas no UFC, e oito são brasileiras – duas delas recentemente disputaram o cinturão: Cris Cyborg e Claudia Gadelha. É feminino o único título que o Brasil, antes referência na competição, possui no momento – o de José Aldo, conquistado na mesma noite, é interino, pois o campeão da categoria não está lutando. Se o reinado dos brasileiros anda um pouco abalado, o das nossas mulheres promete estar apenas começando.
- CRIS CYBORG, 31 ANOS
O início: “Um olheiro me viu. Nem eu sabia que tinha tanta agressividade.”
Maior conquista: “Seguir meu sonho.”
Vida de atleta: “É muita disciplina.”
Sonho: “Adotar minha sobrinha e trazê-la para os Estados Unidos. Ela é filha do meu irmão, só que a mulher dele abandonou a menina há muito tempo e nunca mais voltou. Eu cuidava dela quando morava no Brasil. Prometi a ela que, quando estivesse tudo organizado aqui, ela viria junto. Esse hora está chegando.”
Maior dificuldade: “É treinar todos os dias. No começo você gosta, depois vira trabalho, rotina. Acho que a palavra aqui para a dificuldade é rotina. Não gosto.”
Seu esporte é violento? “Não. As lutadoras estão lá preparadas para lutar. São dois profissionais se enfrentando. Brigar é violento, lutar não, porque você sabe o que faz.”
Com o MMA, aprendi a… “Respeitar as outras pessoas e ser respeitada.”
- AMANDA LEOA, 28 ANOS
O início: “Já estava no sangue da minha família. E eu tinha muita energia e queria gastar com alguma coisa. Descobri como.”
Maior conquista: “Com certeza, ser a primeira brasileira a ganhar o cinturão do UFC.”
Vida de atleta: “É muito boa. Adoro treinar. Fico louca quando não vou à academia.”
Sonho: “Ser campeã por muito, muito e muito tempo.” Maior dificuldade “Com certeza é arrumar patrocínio. Chegou uma hora no Brasil em que eu desisti definitivamente disso e fui para os Estados Unidos.”
Seu esporte é violento? “O MMA possui regras, e é por isso que existe o árbitro no octógono. Ele interrompe o combate quando o atleta não tem mais condição de lutar.”
Com o MMA, aprendi a… “Pensar, ser mais inteligente, manter a calma e ter equilíbrio na vida.”
- CLAUDIA GADELHA, 27 ANOS
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O início: “Adorava esporte, queria treinar artes marciais e minha mãe não deixava. Até que fui a um evento de MMA e me apaixonei pelo esporte. Daí não teve jeito.”
Maior conquista: “Ver as mulheres alcançando cada vez mais espaço no UFC – e fazer parte disso. Fico muito feliz e orgulhosa.”
Vida de atleta: “É difícil demais. Sou da segunda geração de mulheres lutadoras de MMA do Brasil. Se já é complicado pra mim, imagine para aquelas que vieram antes.”
Sonho: “Ser campeã mundial do UFC. Estou focada nisso.” Maior dificuldade “O dia a dia, a vida de um atleta, a rotina de treinos. É exaustivo.”
Seu esporte é violento? “Quem diz isso não sabe o que está falando. O esporte tem regras e o atleta precisa de disciplina.”
Com o MMA, aprendi a… “Viver.”