Nem peitoral ou quadríceps. Eu treino pessoas. E aqui começa a essência do treinamento 3Dimensional. Pessoas têm glúteos, abdômen, peitoral e quadríceps, mas também têm medo, dor, culpa e história. Existem coisas que as inibem e coisas que as estimulam. Elas têm bloqueios e têm esperança. Tantas coisas mais e, além de tudo, nenhuma pessoa é igual à outra. E isso muda tudo. E sabe por que isso muda tudo? Porque quando eu vou treiná-las, elas vêm junto com toda sua singularidade. Ser 3D é entender a não dissociação de corpo, mente e espírito e, a partir desta premissa, se desenvolver dentro dessa harmonia.
Mas, para além do campo teórico vamos ser mais claros e práticos. Quando se leva em consideração esse ser humano complexo, toda experiência é única. Imagine uma pessoa muito tímida. O personal pensou em um exercício excelente para o desenvolvimento do corpo, mas se nesse movimento, por alguma razão, ela se sente exposta. A experiência dela será muito ruim. Talvez ela modifique tanto o padrão deste movimento para “se esconder” que pode gerar uma sobrecarga imensa na lombar. Então, um exercício que do ponto de vista do corpo era ótimo, se torna ruim do ponto de vista emocional e causa até mesmo um efeito adverso. Ao invés de provocar ganhos, gerou dor. E provavelmente essa aluna pode não voltar mais.
O cenário agora mudou. Nosso aluno hipotético está com a autoestima um pouco abalada. Às vezes, isso é tão sério que até dores físicas podem aparecer. Se olharmos para essa dor sem olhar para essa pessoa, não enxergaremos o que está por trás dela. Pensando apenas na lesão, podemos passar um movimento que estimularia o corpo a trabalhar melhor e com isso aliviar esses sintomas. Porém, esse movimento necessita de uma coordenação muito elevada e o aluno, ao não conseguir realizar a tarefa, sente-se frustrado e, associado à baixa autoestima, imediatamente pensa: não sirvo para nada. Talvez, na semana que vem, ele falte na aula e por fim acabe desistindo. E isso se dá porque, ao pensar no exercício bom apenas para a coluna, não enxergamos que essa coluna pertence a alguém.
Quer mais um exemplo? Então vamos lá. Está tudo certo com a aula do seu aluno. Ele está treinando bem e o personal já entendeu a dinâmica dele. Sempre bem humorado e curte um exercício aeróbio. Mas, hoje ele teve uma notícia triste. Um amigo muito querido dele está com uma doença em estágio avançado. Aquilo não sai da cabeça dele. Ele vai até a academia para se distrair. No programa de treino hoje estava definido que seriam 40 minutos de esteira. No entanto, hoje ele precisa de algo dinâmico. Ele não quer pensar. Ele quer esquecer. Talvez, fosse o dia de uma atividade mais variada. Poderia dar alguns socos no saco do boxe ou fazer uma atividade que a cada 30 segundos ele faria algo diferente. Mas, o treino de hoje já estava montado. E estava baseado naquele aluno de sempre. Só que hoje ele não é o mesmo. Bem longe disso. Após 15 minutos na esteira, ele para e diz que quer ir embora porque hoje não está em um dia bom.
A função do Personal 3D não é resolver esses problemas, mas levá-los em consideração. Poderia colocar aqui infinitos casos de como o sucesso não é alcançado porque apenas foi pensando no que é melhor para o corpo. Um outro jeito de entender essa questão é que a maioria das pessoas não querem os exercícios, mas o resultado. E esse resultado não tem a ver com músculos, mas com as tarefas. Um senhor idoso quer andar com mais equilibro e segurança. Uma mãe quer carregar seu filho no colo por quanto tempo for preciso sem sentir dor e cansaço. Um executivo quer chegar do trabalho e poder subir os 15 andares do seu apartamento de escada porque o prédio está sem luz e não precisar parar seis vezes para retomar o fôlego. Uma atleta de vôlei quer saltar o mais alto possível. A caixa do supermercado quer ficar sentada por muito tempo sem sentir dor nas costas.
Para todas essas pessoas, se eu pensar no glúteo ou abdômen, crio uma linha de treinamento, mas se eu pensar 3Dimensionalmente, meu foco estará na tarefa a ser entregue e na pessoa que a deseja. E isso fará com que cada treino seja feito exclusivamente para ela. Então, como eu disse lá no início, eu não treino glúteos, nem abdômen. Eu treino pessoas a atingirem o que vieram buscar e, dentro desse contexto, cada glúteo e abdômen fazem tanto parte do meu processo de pensamento quanto cada conversa, cada sorriso, cada escuta ativa, cada “ser humanidade”. Pois, como diria Jung: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.
That’s all, Folks!!!
Até semana que vem!
Samorai