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Parar de menstruar vale a pena? Analisamos os prós e contras

Para muitas mulheres, menstruação é sinônimo de encrenca: TPM, cólica, inchaço, sangramento abundante... Por isso, há quem já tenha decretado o fim daqueles dias. Mas será que isso é bom para todas? Conheça aqui os métodos, os benefícios e os riscos

Por Yara Achôa (colaboradora)
Atualizado em 26 abr 2024, 10h19 - Publicado em 29 jul 2014, 22h00
AntonioGuillem/Thinkstock/Getty Images
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Alterações de humor, cólicas, dores no corpo e inchaço… Muitas mulheres gostariam de dar fim “àqueles dias”. “Em tese, todas podem ficar sem menstruar”, afirma Tathiana Parmigiano. O ginecologista Elsimar Coutinho, de Salvador, defensor da interrupção da menstruação desde os anos 1960 e autor do livro Menstruação: Sangria Inútil, continua afirmando: “A mulher pode e deve parar de menstruar. Ela ganha mais disposição e não desenvolve anemia e doenças esterilizantes, como infecções pélvicas e endometriose”. A relação entre a menstruação e a endometriose, inflamação do endométrio, doença que afeta milhares de brasileiras, é direta: durante o ciclo menstrual, parte do fluxo sanguíneo é drenado das trompas para o interior do abdômen, causando a inflamação. 

“Nossas avós menstruavam cerca de 40 a 50 vezes na vida, pois engravidavam cedo e tinham muitos filhos. Hoje, a mulher menstrua em média 350 vezes e está sujeita a algumas doenças relacionadas ao excesso de hormônio estrogênico típico do ciclo feminino: endometriose e miomas, por exemplo. Ao suprimir a menstruação, ela, em tese, ficaria mais protegida e não sofreria tanto incômodo com o número excessivo de mensturação”, reforça a ginecologista Silvia Morandi El Faro, de São Paulo.

Opções para não menstruar

Uma pesquisa do Instituto Resulta com a empresa Libbs Farmacêutica, realizada no ano passado em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife, com 340 voluntárias, apontou um número expressivo de mulheres jovens (entre 18 e 30 anos) que flertam com a ideia de não menstruar: 40% disseram que gostariam de interromper o ciclo, mas apenas 19% revelaram já ter feito uso de algum método de supressão menstrual. A baixa adesão, segundo os pesquisadores, é justificada pela falta de informação a respeito dos métodos e pelo desconhecimento de possíveis efeitos colaterais. Para suprimir a menstruação são utilizados contraceptivos hormonais. Os mais comuns são: 
  • Pílula anticoncepcional de uso contínuo, também chamada de pílula combinada por conter dois componentes – um derivado do estrogênio e outro da progesterona, ambos sintéticos. A dose hormonal é praticamente a mesma das pílulas comuns. A diferença é que as comuns são apresentadas em cartelas de 21 comprimidos, enquanto as de uso contínuo em cartelas de 28 comprimidos.
  • Injeção trimestral de derivado da progesterona. 
  • Implante subcutâneo que libera doses mínimas diárias de um derivado da progesterona. 
  • Dispositivo intrauterino (DIU) que libera doses mínimas diárias de um derivado da progesterona. 
A escolha, que deve ser feita com orientação médica, dependerá de como cada organismo reage. “Dependendo da finalidade da supressão da menstruação, alguns podem ser mais indicados do que outros. Eles diminuem a probabilidade das menstruações, mas não se pode garantir que toda mulher vá parar de menstruar”, alerta o ginecologista Luciano Pompei, de São Paulo, professor da Faculdade de Medicina do ABC.

Vantagens a mais

Mulheres com problemas como mioma, endometriose e cistos podem especialmente se beneficiar com a supressão menstrual. “A endometriose apareceu como uma das primeiras indicações para uso da pílula anticoncepcional em esquema contínuo”, diz o médico Luciano Pompei. “Não menstruando, a mulher com endometriose evita o fluxo que pode manter a evolução maléfica da doença”, completa Tathiana Parmigiano.
 
Quanto ao mioma, é importante dizer que a supressão menstrual não age no sentido de diminuí-lo ou fazê-lo desaparecer. “Mas o método pode diminuir o volume de sangue perdido associado aos miomas, ajudando a reverter uma anemia que tenha surgido por menstruações abundantes”, diz Luciano Pompei. E como os cistos de ovário podem ser ocasionados pelos ciclos ovulatórios, ao induzir o bloqueio da ovulação por meio de alguns dos contraceptivos hormonais, eles teriam sua atividade inibida. 

Combate à TPM

A tensão pré-menstrual ainda é uma das principais queixas femininas. E ela está diretamente associada aos ciclos hormonais e à ovulação. “Quando usamos alguns dos contraceptivos hormonais (pílulas, injeções, implantes, DIU) para a supressão da menstruação, podemos interromper esse ciclo e aliviar a TPM”, diz a ginecologista Tathiana.
 
“Vale lembrar que também existem outras formas de combate, como os medicamentos da família dos inibidores da recaptação da serotonina (antidepressivos)”, completa o médico Luciano Pompei. E, claro, alternativas naturais: alimentação saudável (com redução de sódio e açúcar, maior ingestão de água e de carboidratos complexos, como aveia, cereais, pães e arroz integral); exercícios (principalmente atividades aeróbicas, que liberam endorfina, hormônio ligado à sensação de prazer); e técnicas de relaxamento (como massagens e ioga). 
 
É importante ressaltar ainda que não menstruar não significa necessariamente não ovular. “Algumas mulheres se incomodam com o fluxo menstrual, mas não tem TPM. Outras têm TPM e não se incomodam com o fluxo em si. Tudo tem que ser bem conversado e explicado no momento da escolha do método de supressão para que falsas promessas não sejam feitas”, alerta Tathiana. Os contraceptivos podem ser combinados (com os hormônios estrogênio e progesterona) ou não (só com progesterona). “Usando o combinado, a mulher interrompe o ciclo, cessa o sangramento e não ovula, o que é indicado para o tratamento da TPM”, explica a médica.
 
O não combinado também age no sentido de inibir a ovulação – mas isso pode não acontecer. Em cerca de 50% das vezes, a mulher ovula. Mesmo assim, sua ação anticoncepcional é alta, pois ele engrossa o muco vaginal, o que dificulta consideravelmente a passagem de espermatozoides, além de afinar a camada do endométrio. Como esse tecido fica muito fino, se por acaso houver recundação, o embrião não consegue se fixar no útero. Exatamente por estar mais fino, não descama e, portanto, não há o sangramento na maioria das mulheres. Algumas, entretanto, podem apresentar sangramentos irregulares. Logo, o contraceptivo não combinado é recomendado para quem não sofre de TPM e deseja apenas parar o fluxo. 

Fertilidade, libido, peso

Ficar sem menstruar poderia causar problemas à saúde feminina? “A utilização de anticoncepcionais hormonais, assim como qualquer medicamento, está associada a riscos e benefícios e o médico deve fazer um balanço dos prós e contras antes de prescrever”, diz Luciano Pompei. E é imprescindível que a mulher esteja sem menstruar por ter se programado para isso. “A menorreia (ausência de menstruação) não associada a essa estratégia pode significar problema. Ela deve procurar sua ginecologista para investigar”, alerta Tathiana. 
 
A fertilidade também não é comprometida com a interrupção da menstruação. “Estudos mostram que o uso contínuo de pílula anticoncepcional com finalidade de não menstruar ou de outros métodos hormonais (injeções, implantes, DIU) não diminuem a fertilidade. Especificamente no caso da injeção trimestral de derivado da progesterona pode haver um atraso no retorno da fertilidade após a interrupção de seu uso, mas não ocorre dano permanente. Com os outros métodos hormonais tal atraso não é observado”, esclarece Luciano Pompei. Em relação a uma possível queda da libido provocada pelos hormônios, Elsimar Coutinho tranquiliza: “Mais disposta, sem ter preocupação com fluxo, a mulher pode ter mais desejo”. 
 
A dúvida de 10 entre 10 mulheres é se o uso de hormônios de forma contínua poderia levar ao ganho de peso. “Alguns deles sim, principalmente os injetáveis trimestrais de derivados da progesterona”, responde Tathiana. “Os métodos estão cada vez mais modernos e utilizam baixas doses de hormônios, causando o mínimo possível de transtorno em relação ao peso. Mas são medicamentos e todos podem causar um ou outro efeito adverso em algumas mulheres”, fala a ginecologista Silvia El Faro.

Em defesa do ciclo

O médico Eliezer Berenstein, de São Paulo, autor do livro A Inteligência Hormonal da Mulher, considera antinatural a supressão menstrual com hormônios. “O ciclo menstrual é o aliado número 1 da mulher, uma prova de que o organismo feminino está em sintonia com a natureza e é fundamental para o seu equilíbrio físico e psicológico. Ao interromper a menstruação por anos e anos, a harmonia do ciclo hormonal estará comprometida.” Ele diz que entende a mulher que eventualmente se incomoda com o fluxo e procura uma forma de interromper o sangue, mas não o ciclo.
 
“Criou-se uma cruzada antimenstruação e estão fazendo uso indiscriminado de hormônios em mulheres sadias. Essas intervenções trazem o que você deseja, mas o que não deseja vem junto. Altas doses hormonais e a escolha inadequada ao tipo da mulher podem ser prejudicial, provocando, por exemplo, tromboembolismo (formação de coágulos nas veias, que bloqueiam o fluxo sanguíneo e podem causar graves lesões no organismo) e neoplasias (crescimento anormal de células e tecidos). Qualquer medida nesse sentido tem que ser muito bem pensada.”