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O que você precisa saber sobre aids

Medicamentos existem, funcionam, mas o melhor jeito de vencer essa epidemia, que já dura quatro décadas, é investir na prevenção

Por Cristina Nabuco (colaboradora) e Luiza Monteiro
Atualizado em 30 abr 2024, 16h18 - Publicado em 1 dez 2017, 16h00
Casal na cama segurando camisinha
 (LightFieldStudios/Thinkstock/Getty Images)
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Engana-se quem pensa que a aids é problema do passado. Muito pelo contrário – os números vêm crescendo. O Ministério da Saúde estima que existam, atualmente, 827 mil pessoas vivendo com HIV/aids no Brasil. Destas, 372 mil ainda não estão em tratamento e 112 mil nem sabem que estão infectadas. Mais: a cada ano, 40 mil novos casos são descobertos.

A epidemia se concentra em homens e mulheres com idades entre 25 e 39 anos. Mas é no sexo masculino que o cenário tem sido mais preocupante, especialmente nas faixas etárias de 20 a 24 anos e de 25 a 29 anos, em que as taxas de detecção chegaram a triplicar entre 2006 e 2015.

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Em relação às mulheres, o número de diagnósticos tem caído em quase todas as idades, exceto entre as de 15 a 19 anos (crescimento de 12,9%), 55 a 59 (alta de 2,7%) e mais de 60 anos (elevação de 24,8%). De acordo com o Boletim Epidemiológico do HIV/AIDS de 2016 do Ministério da Saúde, em 2015, a maior taxa observada foi entre a mulherada de 35 a 39 anos.

Novo método preventivo

Nesta sexta-feira (1), o governo brasileiro anunciou uma nova terapia capaz de evitar a infecção pelo vírus da aids que estará disponível na rede pública de saúde. Estamos falando da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), indicada para grupos com maior risco de se contaminarem, como profissionais do sexo, homens que têm relações com homens sem parceiro fixo e casais sorodiscordantes (um tem o vírus e o outro, não). “A PrEP consiste no uso diário e preventivo do medicamento Truvada, que reduz em mais de 90% a probabilidade de contrair o vírus pela via sexual quando há adesão total ao tratamento”, explica Anita Campos, diretora médica da farmacêutica Gilead Sciences, responsável pela novidade.

A terapia é composta por uma combinação de antirretrovirais que impedem o HIV de se instalar no organismo. Mas ela não deve ser usada como único método preventivo – a camisinha ainda é essencial para barrar agentes infecciosos que causam males como sífilis, hepatite B e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST). Para garantir a eficácia do tratamento, a pessoa deve tomar um comprimido ao dia. Segundo Anita, o medicamento leva, em média, sete dias para chegar à concentração necessária para proteger contra o vírus da aids.

O Brasil é o primeiro país a implementar essa profilaxia como política pública. Em 2018, serão disponibilizados 10 mil medicamentos em dez estados brasileiros. Na rede privada, o frasco que dura 30 dias será vendido em lojas específicas por R$ 290.

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Tudo sobre aids

A seguir tire suas dúvidas sobre a doença:

Todo portador do HIV tem aids?

Não. Uma pessoa que vive com HIV passa a ser considerada com aids quando apresenta a deterioração do sistema imunológico. O vírus da imunodeficiência humana (HIV) ataca os linfócitos T CD4, que são células importantes no combate às infecções. “Se elas ficam abaixo de 200 unidades por milímetro cúbico de sangue, o risco de desenvolver doenças oportunistas, como herpes, tuberculose e pneumonia, cresce muito”, informa o médico infectologista Jean Gorinchteyn, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. Os que têm o vírus, mas não apresentam sintomas nem sinal da doença, ainda assim podem transmiti-lo. Uma pessoa com aparência saudável pode estar infectada e talvez nem saiba.

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Os sintomas começam a aparecer quanto tempo após o contágio?

Depende da saúde do portador. Segundo o infectologista, as doenças oportunistas demoram, em média, de cinco a dez anos para se manifestar. Em alguns casos, o HIV pode permanecer inativo por até 20 anos. Durante esse período, a pessoa pode ficar assintomática. Os sintomas iniciais costumam ser leves (febre, diarreia, cansaço, aumento dos gânglios linfáticos) ou severos (pneumonias graves, diarreia persistente, emagrecimento intenso, placas de candidíase na língua e na boca, alterações no sistema nervoso).

Como é feito o diagnóstico?

Por meio do exame convencional (Elisa) ou do teste rápido em uma gota de sangue. As duas metodologias permitem detectar a presença de anticorpos contra o vírus HIV. Se der positivo ou reagente, é feito outro teste para confirmar o resultado, o Western Blot, que procura fragmentos do HIV, ou o PCR, que localiza material genético do vírus. O exame é solicitado na gravidez e pode ser realizado nos postos de saúde por qualquer pessoa que desconfie de exposição ao vírus (não usou camisinha no sexo com alguém que use drogas, por exemplo).

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Se der negativo, posso respirar aliviada?

Nem sempre. Pode ser um falso negativo. Os testes aplicados dosam anticorpos contra o vírus. Se o contato for recente, você pode estar no que os especialistas chamam de janela imunológica, período em que a produção de anticorpos contra o HIV é insuficiente para ser detectada. Jean Gorinchteyn recomenda repetir o teste após quinze dias, três meses, seis meses e um ano.

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Vale a pena iniciar o tratamento assim que o exame der positivo?

O Ministério da Saúde abriu essa possibilidade. Até 2013, a terapia antirretroviral só era iniciada quando a contagem de CD4 estivesse abaixo de 500 ou o portador tivesse a partir de 55 anos de idade. O tratamento hoje é feito imediatamente após o diagnóstico, com o objetivo de reduzir a quantidade de vírus em circulação, para evitar a queda na resistência e o aparecimento de doenças oportunistas, e também diminuir as chances de transmitir o HIV a outras pessoas. Mas os remédios têm efeitos colaterais, como aumento do colesterol e dos triglicérides, além de náuseas, vômitos e diarreias nas primeiras semanas de uso. “Alguns não toleram esses efeitos e abandonam a medicação. Com isso, o vírus pode se tornar resistente aos remédios”, alerta o infectologista.

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Os novos coquetéis de drogas fizeram da aids uma doença crônica como hipertensão?

Os 21 antirretrovirais disponíveis na rede pública não matam o vírus. Mesmo que a carga viral fique indetectável, isto é, não haja mais indício do HIV no sangue, ele pode ter se escondido no cérebro, nos gânglios e em outros locais a salvo do nosso sistema de defesa e voltar a atacar, daí a necessidade de usar a medicação por toda a vida, informa Jean Gorinchteyn. Apesar da possibilidade de manter o HIV sob controle, o infectologista diz que não dá para comparar essa infecção a outras doenças crônicas porque ela exige cuidados no sexo e na hora de ter filhos e os portadores sofrem preconceitos.

Como se prevenir?

Atualmente a principal via de transmissão é sexual, portanto o maior cuidado é usar preservativo nas relações homo e heterossexuais: “Não apenas para a penetração do pênis na vagina ou do pênis no ânus, mas antes de qualquer contato com mucosa, sêmen e secreção vaginal, inclusive no sexo oral“, recomenda a psicóloga e orientadora sexual Iracema Teixeira, do Rio de Janeiro. Outros cuidados importantes: não compartilhar seringas, agulhas e objetos cortantes e escolher com o máximo de critério dentistas, manicures e locais para a realização de tatuagem. No caso de populações em situações de risco para infecção pelo HIV, a PrEP também é uma opção.

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Se não houver contato com o sêmen, não há perigo?

Que nada! O coito interrompido não é seguro. Antes de ejacular, o homem libera um líquido para lubrificar a uretra. Assim como espermatozoides, ele também pode carregar o vírus. Portanto, é preciso vestir a camisinha tão logo o pênis fique ereto.

Sexo oral é seguro?

Só se for feito com barreira, isto é, camisinha no pênis e, no caso dos genitais femininos, preservativo cortado na longitudinal. “O risco de transmissão é maior no sexo anal porque o ânus não tem lubrificação, é menos elástico que a vagina e possui muitos vasos sanguíneos, então na penetração podem ocorrer pequenas lesões, que servem de porta de entrada ao vírus”, esclarece Iracema.

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Como saber se a camisinha é confiável?

Veja se está dentro do prazo de validade e se tem a certificação do Inmetro. “As fluorescentes e com sabor devem ser usadas apenas como parte da brincadeira”, orienta Iracema. “Na hora H, prefira uma certificada. Preservativos não testados podem ter microperfurações por onde o vírus passa.” Não guarde em locais expostos ao sol, como porta-luvas. Não abra a embalagem com os dentes e desenrole com cuidado, segurando na ponta para deixar uma folga para o ar.

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E se deu zebra e o preservativo rompeu?

As chances de contrair o vírus dependem de vários fatores, dentre eles seu estado de saúde e a quantidade de vírus em circulação no portador (se a carga viral estiver baixa e controlada com a medicação, a probabilidade de transmissão é próxima de zero). Mas não conte com a sorte. Procure um posto de saúde em até 72 horas e comunique o ocorrido. A profilaxia após a exposição consiste no emprego de antirretrovirais para reduzir as chances de se infectar.

 

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