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A luta de Daiana Garbin para aceitar o próprio corpo

Após anos desejando um shape que não é o seu, Daiana Garbin, ex-repórter da Rede Globo, recebeu o diagnóstico de dismorfia corporal. Entenda o caso

Por Manuella Menezes (colaboradora)
Atualizado em 26 jul 2017, 15h35 - Publicado em 26 jul 2016, 14h26
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Eu achava que tinha apenas uma preocupação excessiva com o corpo. Considerava até meu sentimento fútil, bobo. Um ano atrás, retomei a terapia e minha psicóloga me deu o diagnóstico de uma doença de que eu nunca tinha ouvido falar: dismorfia corporal, ou síndrome da distorção da imagem. Procurei ajuda especializada porque o sofrimento estava muito grande, mas não pensava que uma doença psiquiátrica estava por trás do que me incomodou a vida inteira. Em choque, decidi que era hora de parar de sofrer calada. Foi assim que surgiu, há um mês, o canal do YouTube Eu Vejo, para dar apoio a mulheres que, como eu, também querem fazer as pazes com suas formas.

A insatisfação – na verdade, a raiva – que tenho do meu corpo vem lá da infância. Me lembro do dia em que chorei pela primeira vez por ser a mais gordinha do grupo: foi na aula de balé, aos 5 anos. Vestida de collant azul, eu era barrigudinha, enquanto via as outras meninas magras, com o corpo longilíneo com o qual eu desejava ter nascido. Aos 12 anos, a professora de educação física do colégio mediu e pesou todos os alunos da turma. Eu, que já tinha 1,67 m, era a mais alta. Adivinhe quem também era a mais pesada… Os 60 quilos cravados na balança eram proporcionais à minha altura, mas na minha cabeça só registrei uma coisa: eu era a gorda da galera. Na adolescência, a angústia aumentou. Quando queria sair, eu colocava abaixo todo o guarda-roupa para acabar vestindo calça jeans e camisa preta, meu ‘uniforme’ até hoje. Muitas vezes, não gostava de nada e desistia. Ficava em casa chorando.

Nessa época, forcei distúrbios alimentares: entrava em blogs para aprender a ser anoréxica e cheguei a tentar induzir o vômito. Graças a Deus, não fui bem-sucedida em nenhum desses planos. Mas, como queria ser mais magra de qualquer jeito, comecei a tomar escondido remédios para perder peso. Desejava conquistar o corpo de uma modelo, achava chique ter os ossos do ombro e da bacia aparentes. Só o que consegui foi uma depressão.

Dietas malucas viraram parte da minha rotina. Já passei um dia inteiro com apenas uma maçã – desmaiei. Tentei todas as fórmulas para emagrecer. Como nenhuma dessas atitudes extremas funcionava, aos 20 anos me submeti à minha primeira lipoaspiração (depois, ainda faria mais duas). Hoje sei que um dos sintomas da dismorfia corporal é que você acha que o cirurgião plástico vai resolver seu problema. Eu tinha certeza de que, depois da lipo, ia amar meu corpo. Não adiantou nada. E o pior é que o pós-operatório é muito sofrido. Nas horas de dor, eu pensava: ‘O que estou fazendo comigo?’

Ironicamente, escolhi uma profissão que me levou à frente das câmeras. Amo muito meu trabalho e, admito, me sentia protegida porque repórter costuma aparecer só da cintura para cima. Mas sempre me questionei: como posso ter vergonha do meu corpo no espelho se me exponho para milhões de pessoas? Nossa mente é muito maluca e, às vezes, os sentimentos não têm lógica. Acho importante dizer isso porque algumas pessoas podem pensar ‘Nossa, como ela é infeliz’, e não é assim. Amo minha vida e sou agradecida por tudo que tenho. O problema é quando fico cara a cara com o espelho.

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“COMO POSSO TER VERGONHA DO MEU CORPO SE ME EXPONHO PARA MILHÕES DE PESSOAS NA TV? NOSSA MENTE É MUITO MALUCA E, ÀS VEZES, OS SENTIMENTOS NÃO TÊM LÓGICA.”

Garanto que já evoluí muito nesse ponto. Uns quatro anos atrás, quando completei 30, alguma coisa mudou dentro de mim. Desisti de tomar remédios para emagrecer, resolvi focar na minha saúde e percebi que a estética não é o mais importante em uma pessoa. Hoje me alimento de forma equilibrada durante a semana (evito carboidratos e frituras) e me permito uma ou outra guloseima aos sábados e domingos. Faço exercícios três vezes por semana, sem neuras. Coincidência ou não, me casei nessa mesma época! O Tiago [o apresentador Tiago Leifert, da Rede Globo] percebeu como eu me enxergo desde o começo. Sempre me deu muita força. Na verdade, desde que ele entrou na minha vida, passei a me sentir mais bonita e segura. Meu marido me coloca para cima, fala que sou maravilhosa todos os dias. Reafirma que vai me amar do jeito que eu for, gorda ou magra, porque me ama pelo meu coração.

Sabe que, desde que estreei o canal, recebi mais de 50 mensagens de mulheres profundamente tristes porque o parceiro cobra que elas sejam mais magras? O homem não tem ideia da dor que está causando quando sugere que a esposa deve emagrecer, mesmo que seja de uma forma engraçadinha. Fico emocionada ao ver que, com esse projeto, toquei em um assunto que fazia tantas mulheres sofrerem caladas. Uma me contou que nunca levou o filho à praia porque tem vergonha de usar biquíni; outra nunca transou com o marido de luz acesa. Quero mostrar a todas elas que ninguém está sozinha nessa, que a insatisfação com o corpo muitas vezes é, sim, um problema grave e não devemos sucumbir em silêncio. Temos que buscar ajuda e, acima de tudo, aproveitar a vida. A cada história que recebo, vejo que acertei em reunir coragem para falar sobre esse assunto delicado publicamente. Fez bem inclusive a mim: me deu um grande alívio! Me libertei de um sofrimento que parecia só meu. Gosto de dizer que padrão de beleza é a gente ser feliz. Nós, mulheres, já conquistamos tanto: independência financeira, profissional, sexual. Está na hora de encontrarmos liberdade no nosso corpo.”

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