Segundo relatório do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), apenas no Brasil, são estimados 66.280 novos casos de câncer de mama para cada ano de 2020 a 2022 (aproximadamente 61 diagnósticos a cada 100 mil mulheres). Por isso, foi selecionado um mês (outubro) para conscientização sobre a doença. Mas, independente da data, é importante falarmos sobre câncer de mama, desde a prevenção até a cura. A seguir, especialistas explicam um pouco sobre a doença, como identificar de maneira precoce e a importância do cuidado com a saúde mental durante todo o tratamento — desde a descoberta.
Câncer de mama: Quebrando o tabu
Antes de mais nada, vamos relembrar o que é câncer de mama? Segundo informações do INCA, a doença surge da multiplicação desordenada de células da mama, o que resulta em células anormais que também se reproduzem e formam tumores.
A gente sabe que falar em doença, sobretudo câncer, pode assustar, mas é preciso quebrar esse tabu. Embora sua incidência seja alta, o volume de estudos é enorme, por isso a gama de tratamento também é maior. “O exame de prevenção muitas vezes detecta o câncer de mama em uma fase em que ele ainda nem formou o módulo, com isso as chances de cura são muito elevadas”, afirma Alexandre Pupo Nogueira, ginecologista e membro titular de mastologia do Hospital Sírio Libanês.
com a pandemia do coronavírus, 62% das mulheres deixaram de fazer exames de rotina para detecção de câncer de mama
O problema é que muitas mulheres deixam de fazer esses exames. Uma pesquisa realizada pelo IBOPE a pedido da Pfizer mostrou que 72% das mulheres entrevistadas vão ao ginecologista ou ao mastologista pelo menos uma vez ao ano. Contudo, uma em cada quatro respondeu que não conversa com o médico sobre prevenção, nem recebe orientações sobre a importância do checkup anual e do autoexame. Além disso, com a pandemia do coronavírus, 62% deixaram de fazer exames de rotina para detecção de câncer de mama.
Autoexame
Você já olhou os seus seios hoje? Quanto melhor você conhece e observa o seu corpo, mas fácil fica perceber qualquer alteração.
- Perceba as formas do seus seios;
- Note o tamanho do seu seio (e isso pode mudar de acordo com a fase do ciclo menstrual);
- Observe os seus mamilos (formato e textura);
- Apalpe o seu seio até a região da axila, sentindo bem o seu corpo.
Abaixo, veja um gráfico sobre como fazer isso:
Então, preste atenção aos sinais de alerta apontados por Alexandre:
- Nódulos endurecidos na mama, principalmente se forem fixos;
- Deformidades na pele;
- Inversão ou retração do mamilo;
- Saída de secreção similar ao sangue;
- Saída de líquido com aspecto cristalino.
Notou alguma coisa de diferente? Vá ao médico!
Diagnóstico precoce do câncer de mama
Embora o autoexame seja uma medida preventiva, a mamografia e o ultrassom das mamas são ainda mais indicados para o diagnóstico precoce da doença, pois podem mostrar que existe algo a dar atenção antes mesmo do tumor ser palpável. Por isso, lembre-se de marcar uma consulta para realizar os seus exames de rotina.
No Brasil, segundo o mastologista, os exames em pacientes de baixo risco começam aos 40 anos, sendo realizados uma vez por ano até os 70 ou 75 anos. Já, em pacientes com histórico familiar, sobretudo com casos em parentes de primeiro grau, o acompanhamento começa, via de regra, 10 anos antes do caso mais jovem de câncer na família. Ou seja, se a pessoa mais jovem a ter câncer foi diagnosticada aos 40 anos, o acompanhamento se inicia aos 30. Nesses casos, pode ser associada a ressonância magnética, para uma análise mais aprofundada.
“Quanto antes descobrirmos, melhor. Quando se trata de câncer de mama, falamos em 90% de cura em casos diagnosticados em fases iniciais”, ressalta Rafael Kaliks, oncologista do Hospital Albert Einstein e diretor científico do Oncoguia.
Tratamento e acompanhamento psicológico
“De forma geral, temos os tratamentos locais (cirurgia e radioterapia), que não afetam o resto do corpo, e os tratamentos sistêmicos (como quimioterapia e imunoterapia), que se referem ao uso de medicamentos administrados por via oral ou venosa a fim de atingir as células cancerígenas em qualquer parte do corpo”, explica Idam de Oliveira Junior, médico mastologista do Hospital do Amor, em Barretos. O que vai determinar quando será usado um ou outro são diversos fatores (como avanço da doença, por exemplo) e seu médico é quem vai saber indicar o melhor para você.
Há evidências de aumento de ansiedade, depressão, suicídio, disfunções neurocognitivas e sexuais em mulheres com câncer de mama até mesmo após a cura
Mas é importante notar que o tratamento do câncer deve feito de maneira multidisciplinar, já que o diagnóstico da doença pode ter inúmeros impactos para a paciente, seus familiares e toda a sua rotina. Segundo estudo publicado no Journal of the National Cancer Institute, dos Estados Unidos, há evidências de aumento de ansiedade, depressão, suicídio, disfunções neurocognitivas e sexuais em mulheres com câncer de mama até mesmo após a cura. Por isso, o acompanhamento psicológico é tão importante quanto os demais, antes, durante e depois do tratamento.
“O psicólogo oncologista (psicólogo clínico com especialização na área de oncologia) vai poder acolher esse paciente e sua família”
“O psicólogo oncologista (psicólogo clínico com especialização na área de oncologia) vai poder acolher esse paciente e sua família, orientando, informando e usando todo o seu saber para que os momentos dessa travessia (entre diagnóstico, tratamento e estabilização da doença) transcorra de forma sustentável”, explica a psicóloga com experiência na área de psicologia hospitalar e psicologia da saúde Sonia Maria Campos Pittigliani Ferreira, da clínica de psicoterapia online Telavita.
Saúde emocional no tratamento do câncer de mama
Desde o momento da descoberta da doença, o acompanhamento psicológico é importante para trabalhar o impacto emocional da condição. “O câncer pode ocasionar uma ruptura com o próprio corpo, baixa autoestima, medo de rejeição, comprometimento dos relacionamentos interpessoais e sociais, questionamento sobre a vida após a doença, além do medo da morte”, explica Kamila Panissi, psicóloga do Hospital do Amor. “Dessa forma, o psicólogo irá auxiliar a paciente a reestruturar-se e encontrar estratégias funcionais para enfrentar o estigma da doença e todo o seu tratamento.”
“O câncer pode ocasionar uma ruptura com o próprio corpo, baixa autoestima, medo de rejeição…”
Segundo Marília Zendron, psico-oncologista da Clínica de Oncologia Médica (Clinonco), esse profissional buscará entender ainda o contexto em que a doença foi diagnosticada. “Algumas mulheres já possuem um histórico familiar — ou tiveram contato com alguém que já recebeu o diagnóstico de câncer — e isso pode trazer medos e angústias de repetir algo já vivido”, comenta a especialista.
Assim como o tratamento médico, ter tranquilidade para lidar com esse período é essencial, por isso faz parte desse processo verificar e entender os recursos de cada paciente para lidar com essa situação. “O paciente pode ter como recurso a troca de experiências com outras pessoas que já passaram por um tratamento, o suporte da família e de amigos, o apoio de uma crença ou religião, a leitura, ou, até mesmo, a busca de maior conhecimento sobre a doença. Em outros casos, no entanto, o especialista precisa apresentar novas alternativas para que ela possa lidar com os momentos difíceis dessa fase”, analisa Marília.
“Não se trata de ‘ficar em cima’ o tempo todo, mas de estar à disposição, ajudar nas pequenas coisas, evitar que o câncer seja o tema constante das conversas e manter o resto da vida (entretenimento, intimidade, vida familiar, discussão de outros assuntos) ativa e presente”
Ainda falando em suporte familiar, uma rede de apoio pode fazer toda diferença nesse processo. Uma pesquisa publicada no Journal of the Psychological, Social and Behavioral Dimensions of Cancer, mostrou que mulheres que contaram com o apoio do parceiro, filhos ou outros membros da família sofreram menos com ansiedade e depressão durante o tratamento do câncer de mama. “Não se trata de ‘ficar em cima’ o tempo todo, mas de estar à disposição, ajudar nas pequenas coisas, evitar que o câncer seja o tema constante das conversas e manter o resto da vida (entretenimento, intimidade, vida familiar, discussão de outros assuntos) ativa e presente”, explica o oncologista Rafael Kaliks.
A vida pós-câncer
Mesmo após o tratamento do câncer, muitas mulheres seguem com o medo do retorno da doença. Por isso, ainda é necessário manter o diálogo aberto e consciente sobre o assunto. “O término do tratamento e o período de controle da doença podem trazer sentimentos ambíguos à paciente, pois ao mesmo tempo em que ela fica feliz por não ter que fazer a quimioterapia e sentir os efeitos colaterais do tratamento, existe o receio da doença voltar e a preocupação da retomada da vida após o período em que esteve se cuidando”, comenta a psicóloga oncologista Marília Zendron.
“O término do tratamento pode trazer sentimentos ambíguos, pois ao mesmo tempo em que ela fica feliz, existe o receio da doença voltar”
Segundo a especialista, a paciente deve ter em mente que, realmente, os cuidados com a saúde devem aumentar, afinal ela estará mais atenta ao seu corpo. No entanto, é importante ressaltar que nem tudo será um sintoma de câncer. “A mulher continuará tendo dores de cabeça, dores de barriga, gripe e assim por diante”, acrescenta. “Por isso, quanto mais a ela enfrentar os sentimentos que surgirem d puder falar sobre eles, mais ela saberá lidar com essas questões e poderá ver estratégias para enfrentá-los de outra maneira”, finaliza Marília.
Essa matéria faz parte da edição de outubro de Boa Forma, que traz como tema o Outubro Rosa e conta com uma série de especiais sobre como cuidar da sua alimentação, corpo, saúde mental e autoestima antes, durante e depois do tratamento de câncer. Clique aqui para conferir os outros especiais dessa edição.