Xuxa: a rainha faz 60 anos e fala sobre maturidade, política e estética
Prestes a fazer aniversário e com 40 anos dedicados à TV, Xuxa Meneghel reflete sobre envelhecimento
Não é todo dia que se tem a chance de entrevistar um dos maiores fenômenos populares do Brasil – e em um momento tão especial de sua vida. Em 27 de março, Xuxa Meneghel completará 60 anos e mostra que sua voz reverbera em muitas outras camadas: para além da TV, streaming e redes sociais, Xuxa empresta sua imagem e voz à luta contra crueldade animal e veganismo e é madrinha da Campanha de Vacinação do Ministério da Saúde.
“Procurei a Janja [a primeira-dama] e me coloquei à disposição. Eu fiz isso com todos os ex-presidentes do Brasil. Menos para aquele indivíduo [ela se refere a Jair Bolsonaro]. É um retrocesso absurdo a queda de vacinação infantil. Dizem que quando querem acabar com um povo, acabam com as crianças. Então não vaciná-las, é a pior coisa que alguém pode fazer. A maior demonstração de amor que um pai, uma mãe, pode dar para o seu filho é vaciná-lo”.
À Boa Forma, ela fala sobre esse “ativismo” político, sobre sua alimentação como algo voltado ao bem-estar dela e do planeta, sobre cuidados com corpo e pele e sobre a maturidade que vem com a idade.
ENVELHECIMENTO E MATURIDADE
Os comentários que apontam que você envelheceu mexem com você?
Eu sei que envelheci. Eu trabalho com a minha imagem e me olho no espelho todo dia, não precisam dizer isso.
Poucas pessoas sabem, mas como eu comecei a trabalhar com a minha imagem aos 16 anos, quando eu cheguei com 26 anos, eu já havia feito, se não me engano umas 11 capas da Revista Nova. Lembro que aos 20 anos, falei para uma diretora da época que eu ia parar, porque, aos 26 eu já estava me sentindo velha para fazer foto e que ia parar de fazer TV aos 30 anos.
Imagina? Se eu já pensei, não posso julgar a cabeça dessas pessoas que me acham velha. ‘Nossa, fulana era tão bonitinha novinha, olha como ela tá velha’. Já falei isso muitas vezes.
Mas tem coisas que me incomodam, sim, por exemplo, falar da minha idade ou apontar as rugas que tenho, porque eu sei bem!
Ou quando falam que eu sou careca. Minha mãe foi ficando careca, então eu sabia que ia perder cabelo e há muitos anos cortei assim curtinho. Aí tinha gente falando que eu deveria deixar o cabelo crescer e outras reclamando que não poderia raspar a cabeça. Eu já assumi isso, é genético. O problema é seu que não aceita!
Desde sempre tem pessoas se achando no direito de apontar algo na minha aparência.
Eles não precisam dizer que eu estou velha porque eu vejo o colágeno indo embora, vejo as mudanças do meu corpo. Soa como se quisessem me agredir de alguma maneira.
Nós falamos ‘aquele velho’ de forma pejorativa, não é? Tipo ‘não serve para mais nada’. Eu estou velha, sim, mas eu não sou ‘aquela velha’ porque eu ainda faço muitas coisas! Não à toa tantos projetos têm surgido para mim.
Como você se sente, enquanto mulher aos 60 anos, envelhecendo em uma sociedade que cultua a juventude?
Pode até ser clichê, mas eu me sinto muito madura. O que adiantava usar tamanho 34, ser uma bonequinha, e ingênua e imatura aos 20 e poucos anos. Aquela cabeça que tanta gente se aproveitou, me sufocou, me diminuiu. Aquela menina que acreditava em tudo e todos. Quantas coisas não foram faladas ao meu lado e eu não levantei a voz? Eu não colocava pra fora a indignação, a raiva, seja na política, com piadinhas racistas, seja contra os animais. Eu não tinha maturidade e nem experiência.
Mas agora com esse corpinho de 60 anos, eu não aceito, eu respondo, brigo mesmo. Quando aquele indivíduo doido [ela se refere ao ex-presidente] falou aquele absurdo de “pintou um clima” com adolescentes, eu senti tanto nojo. Queria muito fazer uma campanha chamada “Pintou um crime”. Contra velhos babões que olham para crianças de 12, 13, 14 anos… Como eu fui olhada quando era criança. Crianças dessa idade não se prostituem, são exploradas.
A sabedoria e o amadurecimento vem com a experiência também. Não adianta ter doutorado disso e daquilo e estar voltado pro próprio umbigo, não ouvir os outros, não se colocar no lugar do outro. Acho que a preocupação com a gordurinha ou com uma ruga não pode ser central, é mais importante cuidar da cabeça, fazer o bem. E isso a gente só aprende com a maturidade. Eu fico feliz de ter o corpo que eu tenho, com tanta energia, aos 60 anos.
Eu vivi coisas maravilhosas, sem dúvida. Mas não tive maturidade para aproveitar. Eu conheci o Junno [seu parceiro atual] aos 25 anos e a gente se reencontrou aos 50 anos e vive um amor maravilhoso. Faço questão de dizer o quanto o amo, de dar beijo na boca todo dia. Dar valor, sabe?
CUIDADOS COM A BELEZA DE XUXA
Além do cabelo mais curto, como têm sido esses cuidados com a beleza nesse momento?
Eu me cuido, mas não eu não faço tratamentos estéticos de puxar aqui, puxa ali, colocar boca – embora não critique quem faça.
Como eu uso muita maquiagem, gosto de fazer limpeza de pele todo mês. Eu cuido muito da pele, tenho uma dermatologista no Rio e outra em São Paulo. Mas eu não gosto de botox, por exemplo. Reclamo da falta de expressão que as pessoas ficam. E eu faço muita careta, é uma característica minha. Eu já apliquei botox nas axilas para diminuir o suor e não marcar os figurinos e recentemente a Adriana [Vilarinho, sua dermatologista em São Paulo], recomendou aplicar um pouco nessa região do pescoço e aceitei, ficou bom.
Já cedi um pouquinho. Mas não vou fazer nada porque as pessoas estão dizendo que eu devo fazer ou porque algum tratamento se popularizou.
Faço tratamento com alguns aparelhos que a tecnologia oferece hoje que geram bons resultados, sem serem invasivos. Eu estou aceitando o processo que está acontecendo comigo, mas já existem máquinas que vão me ajudar a me ver melhor, por que não?
Não é que o colágeno está indo embora, ele desapareceu do meu corpo! Com 30 anos começa a diminuir, com 40 tem menos ainda, com 50, ‘nossa, cadê’, e com 60 anos, você diz: amor, agora chegou para você. Então eu tenho que aceitar o corpinho que eu tenho aqui agora com os meus 60 anos.
Então plástica, nem pensar?
O único lugar onde os tratamento menos invasivos não deram o resultado que eu queria foi na barriga. Então, eu fiz uma lipo recentemente no local. Mas não saiu do jeito que eu queria. Um dia, talvez, se eu ainda tiver coragem, eu gostaria de ter uma barriga mais definida.
E você faz atividade física com frequência?
Eu faço Pilates duas vezes por semana, sempre que a agenda permite.
Eu fiquei em São Paulo por vários dias com a Sasha [sua filha], que tinha acabado de voltar de Los Angeles, por exemplo, e aí acabo fazendo umas pausas, o que não é legal. Porque eu me sinto muito bem quando faço o Pilates, alongo muito nas aulas.
Eu já fiz ginástica quando jovem, corria, pulava mais que as crianças nos programas, dançava muito sem aquecer e isso me deixou com algumas lesões. Então o pilates e os alongamentos é o que acho mais importante para mim, atualmente. Para tudo que faço e ainda quero fazer.
E eu me alimento bem e tenho um estilo de vida saudável desde sempre. Não bebo, não fumo, durmo bem. Eu só saí na noite umas duas vezes na vida: uma quando namorava o Pelé e ele amava boate; e uma vez há muitos anos em um barzinho em São Paulo ver o Junno [seu parceiro] tocar – fui disfarçada, com uma peruca, e ele ficou me procurando [risos].
O que adianta malhar de segunda a sexta e se jogar e achar que fazer exercícios zera a conta? Não é bem assim.
VEGANISMO E O IMPACTO NO CORPO (E NO SEXO)
Desde 2018 você é vegana. Qual foi sua motivação e como foi o processo de adaptação?
Com 13 anos, eu já não comia carne vermelha, mas mesmo antes disso, eu via aquele boi, um porco, sendo assado inteiro lá no Rio Grande do Sul e já não entendia porque as pessoas comiam um defunto.
Ovos eu parei de comer aos 14 e frango aos 26 anos.
Eu comia peixe uma vez por semana porque achava que a proteína só existia nos animais. E eu comia só comida japonesa que você não sente o cheiro de peixe, caso contrário não conseguiria.
Foi então que assisti aquele documentário “Terráqueos” e me senti uma pessoa horrível. Ele fala não só da alimentação, mas também da moda, de toda cadeia de exploração animal. E talvez eu seja a pessoa que mais usou botas nessa vida! Foi terrível. Lembro que liguei pro Junno aos prantos, ele me acalmou e disse que ia entrar nessa comigo.
Dia 8 de janeiro de 2018 viramos veganos e tiramos qualquer coisa que estivesse relacionada a bichos daqui de casa. O Ju aderiu também por questões de saúde, além de me apoiar. O pai dele faleceu aos 60 e poucos anos por causa do índice de triglicérides alto. Ele dizia que ‘era uma bomba relógio’.
Eu já tive várias fases: a de ficar revoltada e com raiva de ver gente entrando em uma churrascaria, e hoje em dia eu tolero melhor. Eu acho que se as pessoas tivessem consciência do sofrimento dos animais até chegar no prato, repensariam.
Por isso, apoio ONGs como Animal Equality e outras, empresto minha voz à vídeos, minha imagem, o que for ajudar a ampliar a voz da causa. Eu sinto vergonha de amar tanto os animais e ser vegana só há cinco anos, às vezes. Quero acreditar que daqui meio século, o mundo irá se dividir em veganos e não veganos, igualmente, sabe? Fora o impacto ambiental da agropecuária: 90% do desmatamento da Amazônia é por causa do gado.
E você sentiu diferença no corpo quando eliminou produtos de origem animal do cardápio?
Nossa, minha pele e unhas mudaram bastante depois de três meses!
A disposição também melhorou, embora eu sempre tenha tido muita energia. Hoje se eu correr uma hora na esteira, talvez eu comece a reclamar do meu pé doendo, mas não sinto cansaço. Nossos exames eram excelentes depois dos três meses iniciais, tudo só melhorava na questão da saúde. E dou crédito a isso à alimentação.
Teve uma outra entrevista que dei que só saiu isso, mas vamos lá: a vida sexual também melhorou muito!
Como a vida sexual melhorou?
Em questão de disposição, mesmo. Como o Ju se tornou vegano ao mesmo tempo que eu, sentimos juntos que a coisa estava rendendo por muito mais tempo [risos].
Acho que no documentário da Dieta dos Gladiadores citam um estudo que conduziram com jovens que se alimentaram por um período com dieta vegana e outro grupo com carne e derivados de animais. Os veganos tiveram muito mais que o dobro de ereções por noite. Achei engraçado que os adolescentes disseram que quando namorarem vão parar de comer carne.
Depois de três meses a gente se olhava e dizia “Uhuu! Vamos de novo?”.
CARREIRA (AINDA) EM ASCENÇÃO
Um de seus novos projetos é o Navio da Xuxa, que vai zarpar de Santos, dia 24 de março e retorna dia 27, data de seu aniversário. Como vai ser esse projeto do Navio?
O Navio terá shows, projeções e confraternizações com os fãs a bordo, que vão ser transmitidos pelo Multishow em um especial.
Eu estou acompanhando cada detalhe da execução de perto. Da inclusão de opções veganas no menu dos sete restaurantes do navio aos 60 looks [que usou ao longo desses anos na TV e que serão expostos à bordo] que prometi mostrar.
Pode ser bobagem, mas meu receio é que quero que seja tudo excelente e não ‘mais ou menos’, já que é para um público que tem tanto carinho e me respeita. Já disse que quero entrar um dia antes para ver tudo sendo montado madrugada adentro.
No dia 4 de março, o Canal Viva relançará 17 episódios do “Xou da Xuxa”. Você está animada ou apreensiva?
Meio apreensiva, meio animada em revisitar esse passado. Na época as piadas eram outras. Minha filha está animada para me ver quando eu tinha a mesma idade que ela hoje, mas eu já a alertei que os tempos eram outros.
PROJETOS PARA O UNIVERSO LGBTQIAP+
Xuxa também irá estrelar “Tarã”, uma ficção para o Disney+, e o reality “Caravana das drags”, para o Prime Video da Amazon, que pretende apresentar o Brasil por meio da arte drag. Ela conta que anos atrás, apresentou a ideia de um programa que apresentaria ao lado de Ivete Sangalo, seguindo os moldes de RuPaul Drag´s Race, que na época estava na segunda temporada. Mas a proposta não foi para frente.
Anos depois, a atriz e diretora Tati Issa, junto com a Amazon, apresentaram a ela um projeto parecido com o que ela havia imaginado.
“Ela materializou meu sonho. Eu tenho um enorme respeito e paixão por esse universo, então foi uma oportunidade muito especial. Eu aprendi pra caramba com elas, com o Ícaro (co-apresentador) que é uma enciclopédia viva, me emocionei muito com a vida de cada uma das participantes, nas sete cidades por onde passamos. Vemos a quantidade de pessoas preconceituosas e homofóbicas que existem (e não têm vergonha de se mostrarem), muitas vezes levantando uma bandeira religiosa. Mas esse ódio não existe em religião nenhuma. Então, espero que mesmo essas pessoas se permitam assistir e, quem sabe, repensar”, diz ela.
A série “Caravana das Drags” já foi vendida para 240 países, e embora as conversas sobre uma próxima temporada tenham sido levantadas, nada foi confirmado ainda. “Eu estou superanimada. Quero fazer mais e mais temporadas!”
OUTROS PROJETOS DE XUXA
No meio do ano, chegará aos cinemas o longa “Uma fada veio me visitar”, adaptado de um livro de Thalita Rebouças.
A Rainha também é tema de uma série documental dirigida por Pedro Bial para o Globoplay, ainda sem data para estrear.
Ufa! Xuxa espera que mais e mais projetos aconteçam, porque energia e criatividade, ela tem de sobra. “Não uso mais a palavra ‘me aposentar’. Aos 20 anos eu dizia que iria me aposentar aos 30 – que já estaria velha! Que bobagem. O que acho hoje é que eu preciso dar um tempo para me reciclar, aprender, me ouvir, ver o que está acontecendo do lado de fora e avaliar se eu ainda posso fazer alguma coisa nova, como no caso do Navio. Quero me dar o direito de testar e me aventurar. Estou com 40 anos de profissão, com todos esses projetos por aí e querendo fazer muito mais!”
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Fotos: Blad Meneghel
Direção de arte: Rodrigo Pavanello
Texto e entrevista: Juliana Vaz
Beleza: Edu Moraes
Stylist: Marcelo Cavalcante