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Saiba tudo sobre o balão intragástrico

Colocado no estômago, o balão intragástrico "rouba" espaço da comida e espanta a fome, mas está longe de ser a solução ideal para emagrecer só uns quilinhos

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 28 out 2016, 03h55 - Publicado em 29 jul 2014, 22h00

Você se acha gorda de verdade? Bem, o “achômetro”, no caso, não vale. Obesidade é uma doença mensurável pelo índice de massa corpórea (IMC), que avalia a gordura corporal. Para chegar a ele, divida seu peso pela sua altura elevada ao quadrado (veja abaixo em que índice você se encaixa). O cálculo é um tanto discutível por não levar em conta a massa magra, que também pesa na balança, mas, por enquanto, não há outro.

 
Se o IMC estiver abaixo de 35, segundo as diretrizes do Conselho Federal de Medicina (CFM), o balão intragástrico não é para você. As indicações para a sua utilização são as mesmas estabelecidas para o tratamento cirúrgico: pacientes com IMC acima de 40 ou maior do que 35, mas com doenças agravadas pela obesidade, e que tenham sido tratados clinicamente durante dois anos com resultados insatisfatórios. Apesar da resolução do CFM, a própria Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica recomenda o balão intragástrico para quem tem sobrepeso (IMC de 25 a 29,9) – um degrau abaixo da obesidade. Diante da divergência, surge o impasse: entro ou não nessa onda?
 

A opinião de quem experimentou 

Hoje, o balão intragástrico é muito mais seguro do que nos seus primórdios, mas não é totalmente inócuo. Há risco de que o dispositivo de silicone (o mesmo tipo usado nas próteses de mama) se rompa e, levado pelos movimentos peristálticos do estômago, migre para o intestino, provocando uma obstrução que, em certos casos, exige cirurgia imediata. “Mesmo que não arrebente, o balão pode perfurar a parede do estômago, lesionar os vasos e provocar uma hemorragia”, alerta o cirurgião João Luiz Azevedo. “Além disso, o material está sujeito ao ataque de fungos, o que pode provocar infecção.” Vladimir Schraibman, cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, aponta outro risco: “O balão pode provocar megaesôfago, uma dilatação que dificulta engolir alimentos sólidos e líquidos”. 
 
Sem contar as reações do organismo ao corpo estranho – cólicas, náuseas, refluxos e vômitos, sobretudo nas duas primeiras semanas. “Há quem não tolere tanto incômodo, o que obriga a retirada do dispositivo dias depois do implante”, conta Luiz Vicente Berti. Foi o que esteve a ponto de acontecer com M*, 31 anos, empresária de Campinas, no interior paulista. “A primeira noite passei em claro, senti um mal-estar terrível, com vômitos de cinco em cinco minutos e diarreia”, lembra. “Como estava muito frio, tomei vários banhos quentes, a sensação da água sobre a barriga trazia um certo alívio. Em quatro dias perdi 4 quilos, de tanto vomitar e ir ao banheiro. Depois, as náuseas ficaram mais esporádicas, de meia em meia hora. Mas bastava ingerir 50 mililitros de líquido e já tinha que sair correndo.” 
 
A empresária é um caso clássico de efeito sanfona. Até os 24 anos, pesava 57 quilos, adequados para a altura dela, 1,63 metro. Em um ano, chegou aos 68 de tanto abusar de lanches, salgadinhos e refrigerantes antes de ir à faculdade direto do trabalho. “Desesperada, comecei a tomar medicamento para emagrecer e perdi esses 11 quilos em três meses. Encerrado o tratamento, cheguei a 88 quilos, voltei à medicação, mas já não emagrecia tão rapidamente. Até fiz uma lipoaspiração para retirar 8 litros de gordura.” Sua meta é chegar aos 65 quilos para engravidar. Na época da entrevista a BOA FORMA, fazia 41 dias que ela tinha colocado o dispositivo. E já comemorava a perda de 10 quilos, a diminuição de 10 centímetros na cintura e 7 nos quadris. “Estou usando numeração 44, claro que me sinto animada, mas, por tudo que passei, entre a lipo e o balão, preferiria fazer outras dez lipos!”, desabafa. 
 
Glaucia Monteiro Tremura Campana, 35 anos, gerente de vendas de Campinas, outra adepta do balão, perdeu 6 quilos em um mês. Quando engravidou, foi dos 63 para 99 quilos (sua altura é 1,66 metro). “Tinha pavor de chegar aos três dígitos”, conta. Ela também teve vômitos, mas só nos dois primeiros dias pós-procedimento. “Nada que se compare ao relatado por uma moça que conheci no consultório”, lembra. “Ela disse que vomitou durante vários dias e achava que ia morrer. Então, eu me preparei para o pior. Talvez por isso tenha superado com certa facilidade”, diz. A publicitária Fernanda Ramalho, 28 anos, 1,79 metro, de Rio Branco, já foi obesa mórbida – chegou aos 140 quilos. Tentou de tudo, mas o máximo que conseguiu foi perder 12 quilos. Depois que colocou o balão, enxugou 42. Ela retirou o dispositivo há quatro meses e garante: “Agora consigo distinguir entre fome e vontade de comer”. E já se prepara para pôr o balão pela segunda vez. Quer perder mais 20 quilos e sair da faixa da obesidade. Vai de novo enfrentar azias, enjoos, dores abdominais… “Afinal, não existe benefício sem sacrifício”, conforma-se. 
 
Nesses três casos, os efeitos colaterais justificam até mesmo correr os riscos inerentes ao procedimento, porque oferecem menos perigo do que a própria obesidade de acordo com os médicos. “Ninguém deve pensar no balão para perder peso rapidinho e caber no vestido de festa”, adverte Luiz Vicente Berti, cirurgião do aparelho digestivo e bariátrico, de São Paulo. Ele acrescenta: “Essa é uma ferramenta para quem esgotou todas as possibilidades de tratamento clínico e precisa sair da obesidade”. 
 

Milagre não existe 

O professor de gastrenterologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, Hercio Cunha, frisa que para emagrecer não dá para contar com métodos milagrosos. “Nem a cirurgia é definitiva se não houver uma reeducação alimentar.” Retirado o balão, há risco de recuperar os quilos perdidos. “Sem ele, o apetite volta ao normal. Se a pessoa não aprendeu a comer direito, fatalmente vai engordar de novo”, conclui o professor da PUC. O mesmo, aliás, pode acontecer até para quem se submete a qualquer uma das técnicas cirúrgicas. Então, leve a sério a velha fórmula: quem gasta menos calorias do que come engorda. Quem queima mais calorias do que as consumidas emagrece. Ponto final. 
 
*A entrevistada pediu para não ser identificada 
 

IMC: qual é o seu? 

Menos que 18,5 – baixo peso 
De 18,6 a 24,9 – normal 
De 25 a 29,9 – pré-obesidade (sobrepeso) 
De 30 a 34,9 – obesidade leve 
De 35 a 39,9 – obesidade moderada 
De 40 a 49,9 – obesidade severa 
50 ou mais – superobesidade 
 
Fonte: Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. 
 

Saiba como funciona o balão intragástrico 

Por meio da endoscopia, uma técnica não-cirúrgica que dispensa anestesia (basta uma leve sedação), uma esfera de silicone ainda murcha é inserida, pela boca, no estômago. Acoplado a esse dispositivo, um cateter serve de veículo para a mistura de soro fisiológico e azul de metileno, que vai inflar o balão. Caso o dispositivo se rompa, a substância azulada tinge a urina e denuncia o ocorrido, que deve ser comunicado imediatamente ao médico. Cheio, ele ocupa de 1/3 a metade do estômago, que passa a secretar menor quantidade de grelina, o hormônio da fome, reduzindo, assim, o apetite. Uma microcâmera instalada na ponta do endoscópio orienta todo o procedimento, que dura de 30 minutos a uma hora, é realizado em hospital e não requer internação.
O prazo de validade é seis meses. Depois, o balão deve ser retirado porque os ácidos que banham o estômago degradam o material. Além disso, como fica em contato direto com a mucosa do órgão, pode contribuir para o aparecimento de úlcera e gastrite. Em média, 15% do peso é exterminado. Ele funciona como um empurrãozinho para você aprender a comer direito. Não interfere na absorção dos nutrientes e, como em qualquer processo de emagrecimento, não evita a perda de massa magra (com menos músculos, o corpo fica mais flácido, sem definição). Um mês após o procedimento, que não é coberto pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a atividade física está liberada. Como você elimina grande volume de líquido, a pele pode ficar ressecada durante o período crítico, quando os efeitos adversos são mais fortes. 
 

Engordar para operar 

Essa estratégia não é bem vista por grande parte dos especialistas. Seja por vontade própria, seja por orientação médica, tem gente que acaba engordando de propósito só para se enquadrar na faixa de obesidade que tem cobertura dos planos de saúde para a cirurgia bariátrica. “Eu jamais pedirei isso a um paciente, mas, às vezes, até mesmo por um imperativo de sobrevivência, algumas pessoas, levadas pelas circunstâncias, acabam atingindo o peso mínimo exigido para a operação”, diz o especialista João Luiz Azevedo. Seu colega Luiz Vicente Berti também condena o esforço voluntário para engordar: “Quem faz isso pratica uma violência contra o próprio corpo e contribui para aumentar os riscos na hora do procedimento”, alerta. Ao contrário, você deve perder peso antes de fazer a cirurgia. E aí, sim, o balão intragástrico funciona como uma boa terapia auxiliar.
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