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Endometriose: como tratar?

Saiba tudo sobre a doença que é uma das principais causas da infertilidade.

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 28 out 2016, 03h28 - Publicado em 29 jul 2014, 22h00
Thaís Cavalheiro - Edição: MdeMulher
Thaís Cavalheiro - Edição: MdeMulher (/)
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Foto: Getty Images

“Dor física + dor na alma = endometriose. Não é fácil.” Nessa equação com poucas palavras, publicada em um dos sites de apoio às vítimas da doença, resume o quadro que afeta uma em cada dez brasileiras em idade fértil, algo em torno de 5 milhões de mulheres. Apesar de tão frequente, a endometriose ainda é um enigma para a ciência. Certo mesmo é que costuma provocar muita dor: física e emocional. Não raro, leva à depressão. E é uma das causas mais importantes de infertilidade – metade das jovens que sofrem desse mal não consegue engravidar.
 
O endométrio é o tecido que reveste o útero. Quase tão fino quanto à pele dos lábios, cresce a cada 28 ou 30 dias, estimulado pelos hormônios do ciclo menstrual. Sua função é preparar o órgão para receber o embrião. Se a gravidez não acontece, essa mucosa descama e escoa pela vagina – é a menstruação. Só que, por motivos ainda não completamente elucidados, algumas de suas células, em vez de seguir o fluxo normal, retornam pelas trompas, alojando-se dentro da cavidade abdominal. De lá, extravasam para outras áreas da pelve, implantando- se nas próprias trompas, nos ovários, intestino, ureter, peritônio (membrana da parede abdominal), na bexiga e vagina.
 

Como dói!

Embora nem todas as mulheres com endometriose sintam cólica forte, esse é um dos sintomas mais característicos da doença. Por que dói tanto? “O pedaço do endométrio que se instalou fora do útero continua funcionando normalmente e se comporta como se ainda estivesse lá”, diz Eduardo Schor, professor do departamento de ginecologia e responsável pelo Setor de Endometriose da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Sem ter por onde sair, o sangue intrometido fica acumulado na pelve e, como uma espécie de cola, provoca a aderência dos órgãos que estão mais próximos uns dos outros – bexiga ao útero, ovário ao intestino, vagina ao reto. Daí a dor (também nas relações sexuais), a infertilidade, a dificuldade para evacuar e urinar.
 
“Muitas mulheres atribuem a cólica à menstruação, acham que é normal e não procuram o médico. Isso atrasa o diagnóstico, que chega a demorar até dez anos, às vezes mais”, diz Arnaldo Schizzi Cambiaghi, ginecologista e obstetra especialista em reprodução humana, autor do livro Fertilidade e Alimentação, publicado pelo Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia. Mas você pode distinguir uma cólica da outra. “A menstrual passa com um antiespasmódico, e a da endometriose não. Pode ocorrer antes, durante e após a menstruação e impede as atividades normais do dia a dia”, diz Eduardo Schor.
 

Dá para controlar

A dificuldade para engravidar também serve como sinal de alerta. Nesse caso, exames clínicos, laboratoriais de sangue (chamados de marcadores), ultrassom endovaginal e ressonância magnética pélvica ajudam no diagnóstico. Detectada no início, a endometriose tem cura, mas pode voltar. Por isso, precisa de controle permanente.
 
Altos níveis de estrogênio podem ser o estopim da endometriose. Esse hormônio funciona como a gasolina que alimenta o fogo. Já a progesterona atua como o bombeiro no combate a um incêndio. Assim, pílulas anticoncepcionais de uso contínuo à base de progestagênicos, medicamento sintético similar à progesterona, são uma opção de tratamento. No ano passado, a Anvisa liberou a venda do primeiro medicamento à base de dienogest, substância específica para tratar a endometriose que simula a ação da progesterona e inibe a atividade estrogênica. Para os quadros mais graves, só resta a cirurgia por videolaparoscopia para a remoção do tecido que cresceu fora do útero e das aderências.
 

Fatores de risco

Ainda não se sabe todas as causas da endometriose, mas há suspeitas de que a herença genética esteja por trás dessa história. Ou seja, se sua mãe ou irmã apresenta a doença, você também corre o risco de desenvolvê-la. De qualquer maneira, a Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia classifica a endometriose como um distúrbio típico da mulher moderna. Aquela que, na briga por um lugar ao sol, precisa ser competitiva na carreira, submetendo-se constantemente a um elevado grau de stress – estado emocional apontado como um facilitador da doença. “O organismo debilitado pelas tensões cotidianas deixa fora de combate os milhões de células incumbidas de expulsar substâncias estranhas ao corpo”, diz Sérgio Conti Ribeiro, ginecologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e do Hospital das Clínicas de São Paulo. E tecido endometrial, que penetra onde não deve, é uma delas.
 
Também por razões profissionais, muitas mulheres adiam a gravidez para além dos 35 anos, considerado mais um fator de risco. “A demora em engravidar faz com que o estrogênio, que é o grande detonador da endometriose, aja por tempo prolongado”, explica Sérgio. “Quanto mais vezes menstruar, o que significa que a mulher ficou mais tempo sem engravidar, maior a possibilidade de desenvolver a doença.” Isso porque a menstruação contribui para a viagem das células do endométrio para áreas fora do útero. Nossas avós não conheceram a endometriose justamente porque engravidavam mais cedo e tinham mais filhos. Ao longo da vida, passavam por 50 menstruações, enquanto hoje esse número saltou para 400.
 

Sete medidas aliadas

Visitar regularmente seu ginecologista é essencial para driblar a endometriose. Aposte também em hábitos saudáveis. Eles podem ajudá-la a virar o jogo.
 
1. Evite o stress. Um estudo recente realizado pelo Departamento de Psicologia e Farmacologia da Escola de Medicina Ponce, em Porto Rico, estabeleceu, pela primeira vez, a relação entre o stress, o sistema imune e a progressão da endometriose.
 
2. Pratique atividade física. Outro estudo, desta vez da Universidade de Washington e do Instituto Nacional do Câncer, revela que fazer exercício com frequência libera endorfinas, analgésicos naturais que aliviam a dor, e reduz os níveis de estrogênio.
 
3. Aposte nos nutrientes protetores. Entre eles está o ômega 3, gordura do bem capaz de diminuir o estrogênio no sangue. Segundo pesquisadores da Fundação Britânica de Nutrição, ele está na chia, na linhaça e em peixes como atum, sardinha e salmão. Presente nas folhas verde-escuras (couve, rúcula, espinafre), em frutas (manga, melão, tomate), tubérculos (batata-doce) e legumes (abóbora, cenoura), a vitamina A é outro nutriente protetor, assim como a vitamina C, encontrada na acerola, na laranja e no limão.
 
4. Consuma minerais antioxidantes. Como a endometriose é uma doença inflamatória, os antioxidantes com ação anti-inflamatória são obrigatórios na dieta. É o caso do magnésio e do zinco, que marcam presença nos cereais integrais, como arroz integral, quinua e amaranto, e no tofu (queijo de soja).
 
5. Reforce a imunidade. Para dar um upgrade nas defesas, consuma iogurte, shiitake, orégano e alimentos ricos em selênio como castanhas. 
 
6. Aumente o consumo de vegetais. De acordo com um artigo publicado na revista científica inglesa Reprodução Humana, escrito pelo ginecologista e pesquisador italiano Fábio Prazzini, da Universidade de Milão, frutas, verduras e legumes reduzem até 40% o risco de endometriose.
 
7. Reduza a carne vermelha. Esse alimento, segundo Fábio Prazzini, estimula a produção de prostaglandinas, substâncias responsáveis por processos inflamatórios e dor. Em um estudo com mil mulheres, aquelas que comiam carne vermelha todos os dias apresentaram entre 80% a 100% mais risco de desenvolver a doença em comparação as que priorizavam os vegetais.