Como saber se você está em uma relação codependente
A codependência é uma relação que se baseia no conceito de "ataduras emocionais" - pessoas que se atrelam às patologias alheias.
As relações humanas são bastante complexas, mas não é difícil nos percebermos dependentes de alguém. Contar com os amigos para ir a uma festa, com o parceiro ou parceira para um programa de final de semana, até com os pais, para garantirem a sua segurança enquanto você ainda é criança. No entanto, existe um ponto em que essa dependência passa do considerado saudável. É aí que entram em cena as relações de codependência.
Segundo a Dra. Livia Beraldo, psiquiatra do Hospital Santa Paula, a codependência é um transtorno emocional, definido entre as décadas de 1970 e 1980, e que foi primeiramente relacionado aos familiares de dependentes químicos. “Atualmente a codependência é estendida a qualquer quadro de dependência ou transtornos graves de personalidade e de conduta”, explica.
De acordo com a médica, a característica principal desse transtorno é o chamado “atadura emocional”, ou seja, a pessoa se atrela à patologia do outro, desenvolvendo uma dificuldade extrema de colocar limites para o comportamento problemático do dependente.
“Aos poucos, a tendência é que passem a viver em função do outro, assumindo a responsabilidade pelos problemas dele e por suas vivências”, diz. “Por exemplo, a esposa que tolera, incansavelmente, todas as consequências decorrentes do alcoolismo do marido, como perda do emprego, agressividade, irresponsabilidades, etc., ou a pessoa que suporta qualquer tipo de abuso do cônjuge por medo das chantagens emocionais feitas por ele, como a separação.”
Ela explica ainda que, por conta disso, o familiar chega a adquirir características e atitudes disfuncionais e patológicas, que podem gerar ainda mais sofrimento para todos os afetados. Na maioria dos casos, o comportamento codependente é expresso por pais ou cônjuges que têm contato direto com o paciente e se sentem responsáveis por ele.
Os tipos de codependência
Apesar de, inicialmente, a codependência ser atrelada principalmente a dependentes químicos e seus familiares, sabe-se que é possível identificar pessoas codependentes em diferentes contextos, nos quais o padrão é sempre o mesmo: tomar para si a responsabilidade total sobre os atos e problemas do outro, seja no âmbito conjugal, social ou profissional.
Por isso, é possível ver essa relação acontecer em diferentes esferas principais:
- Codependência química: “É expressa justamente nas situações envolvendo uma pessoa com transtorno por uso de substâncias (dependência química), ou seja, o paciente convive com o seu vício, sofre com os seus efeitos e o codependente faz o mesmo, enquanto tenta controlar o outro e definir o curso de suas ações”, diz Livia.
- Codependência afetiva: pode estar conectada a qualquer indivíduo que tenha uma ligação emocional patológica em um tipo de relacionamento. Segundo a psiquiatra, o princípio é o de que existe uma dependência emocional em relação ao outro, com a presença de sentimentos como insegurança, medo do abandono e desejo de agradar constantemente.
- Codependência familiar: “Pode aparecer em vários contextos e até mesmo nos quadros de dependência química”, explica. “A questão central é a prevalência de um sentimento de culpa, que afeta toda a vivência da família e leva um ou mais membros a desenvolver comportamentos obsessivos, na busca pela recuperação do adicto.”
Em qualquer um desses casos, o tratamento costuma seguir uma abordagem tripla.
- Tratamento do dependente
- Psicoterapia
- Grupos de apoio, como o Alcoólicos Anônimos
No caso da psicoterapia, Livia explica que ela envolve resgatar a autoestima e ajudar os pacientes a enxergarem os comportamentos reproduzidos até então, buscando compreender o quanto afetam a própria vida e a recuperação do outro.
“Auxilia a desenvolver o autoconhecimento e trabalhar questões que podem estar relacionadas no surgimento da codependência”, continua a médica. “É também sobre aprender a lidar com as próprias expectativas diante de crenças muitas vezes irracionais e gerar uma consciência mais realista dos seus sentimentos e comportamentos.”
O resultado, diz ela, é tornar mais fácil o reconhecimento de condutas que precisam ser modificadas e ficar menos vulnerável às emoções.