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Fernanda Motta: beleza e força após um câncer

A modelo e apresentadora, de 41 anos, conta sobre a sua relação com o corpo após a doença e como vê o bem-estar hoje em dia

Por Marcela de Mingo
10 ago 2022, 08h02
Fernanda Motta Boa Forma
 (Adilson Santos/BOA FORMA)
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Era mais de 14h no Brasil, mas quase 20h em Capri, na Itália, de onde Fernanda Motta falava. Depois de um dia atribulado, com voos atrasados e uma correria danada, a modelo e apresentadora abriu a câmera para a nossa conversa com muito bom humor, enquanto — merecidamente — degustava os quitutes do seu quarto de hotel, uma forma de enganar a fome até, de fato, conseguir comer direito. 

Por 40 minutos, nossa conversa passou pelos principais tópicos que cercam a vida da top model hoje: desde o diagnóstico, tratamento e a cura de um câncer de mama, a sua relação com o corpo e a beleza, o que prioriza em termos de alimentação e exercícios físicos, até os novos rumos da sua carreira. Tudo isso em um bate-papo muito gente como a gente. 

Abaixo, você encontra a nossa conversa na íntegra, com tudo de mais inspirador que Fernanda nos ofereceu do outro lado do Atlântico. 

Fernanda Motta Boa Forma

Fernanda, você passou por muita coisa nos últimos anos. Conta pra gente: o que significa bem-estar pra você, hoje? 

Nossa, uma pergunta maravilhosa! Bem-estar é um conjunto, é estar bem física e emocionalmente, é um combo. Principalmente, saúde. A saúde em dia é um bem-estar verdadeiro, porque sem saúde a gente não tem nada na vida. Mas bem-estar é um conjunto, do corpo e da mente. Eu aprendi muito isso com as coisas que eu passei e, eu acho que é isso, o equilíbrio que a gente fica tentando buscar todos os dias. 

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Você passou 11 meses lutando contra um câncer de mama… Como essa experiência moldou a forma como você se vê hoje? 

Um diagnóstico de uma doença como essa é uma coisa muito forte. Eu tive que me agarrar a uma força muito grande para me manter muito bem psicológica e fisicamente para enfrentar um tratamento de câncer. É um tratamento sério, pesado, a quimio é um tratamento pesado, forte, tem a parte emocional… 

Eu sempre fui uma pessoa positiva, mas eu acho que o enfrentar dessa doença me fez triplicar tudo. Com tudo isso eu consegui ficar mais forte, ter mais fé. A doença me confirmou o que a gente pode fazer quando a gente acredita muito, tem muita fé, tem força e quando vê o lado positivo, mesmo nos momentos difíceis. A cabeça é responsável, no mínimo, por 50% de uma cura. 

A doença me fortaleceu mais ainda, e provou o quanto a gente pode ser forte e enfrentar uma situação com certa leveza, procurando o bem-estar na própria doença. 

Fernanda Motta Boa Forma
(Adilson Santos/BOA FORMA)

Passar por um câncer mudou também a sua relação com o corpo? 

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De certa forma, a gente acaba amando muito o corpo. Eu tento sempre passar uma coisa pras pessoas, muito particular minha: quando eu estava fazendo a quimio, eu agradecia às células que estavam indo embora. Elas estavam mudando a minha vida. 

E o meu corpo… Em nenhum momento eu tive uma coisa de “Por que eu?”. Eu não tenho esse DNA do “por quê?”, de se lamentar muito. Eu reclamo, mas não lamento! Mas eu acho que eu amo mais o meu corpo, porque ele está saudável, porque é meu. Quando a pessoa passa por uma doença muito séria, de risco de vida, você fica muito grata pelo que você tem. Não só fisicamente, mas com a parte interna – eu converso com as minhas células e o meu corpo, por ele estar bem. 

Deus nos deu o nosso corpo como se fosse a nossa igreja. Eu sempre tive que cuidar, porque ele é o meu santuário. Sem ele, não sou ninguém. Depois disso, a minha relação foi mais de amor, porque cuidado, eu sempre tive. É uma relação de se amar. 

Você passou por uma mastectomia total… além de todas as dificuldades que a doença apresenta, como essa cirurgia afetou a sua autoestima? 

Eu sou uma pessoa muito prática. A gente tem que aprender a amar o que a gente tem. Eu fui muito abençoada porque, apesar de ter tido um câncer mais agressivo e raro, ter feito muitas quimioterapias, ter feito a mastectomia, eu tive a chance de reconstruir o seio na mesma cirurgia – foram 9 horas de cirurgia. 

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Eu não tive que ficar sem o silicone, isso já é diferenciado. Sinceramente, claro que os seios ficaram diferentes, mas eu os acho lindos, eu amo de qualquer maneira. Eu não tive esse problema, eu vejo que eu já passei, que eu venci, que não tem mais nada. Não ficou como era antes. Para mim, eles estão perfeitos, então, não me abalou em nada. 

Você fica sem a gordura do peito inteiro, é diferente para dormir, para encostar, você se acostuma. As minhas cicatrizes são bem ok, mas não representam muita coisa. Realmente, é uma coisa de se readaptar, você nasce de novo. E tudo bem. A gente não aprende a gostar de tudo? Aprende a gostar do que tem, está tudo certo. 

Fernanda Motta Boa Forma

Você costuma falar bastante sobre essa fase da sua vida… Qual o seu objetivo com isso e como você sente que impacta as pessoas que te acompanham?

Eu não tenho problema nenhum em falar sobre isso. Compartilho toda a minha experiência, quantas milhões de vezes forem preciso. Mas eu não vivo para falar sobre isso – a minha vida não é o câncer que eu tive, mas o que eu vivo. Eu tenho certeza que ajuda muitas pessoas, todos os dias eu recebo milhões de mensagens e e-mails, pessoas que pedem a minha ajuda ou se inspiram no que aconteceu comigo – não em mim, mas na minha situação. Quando elas me veem, elas veem que é possível vencer um câncer e mudar a sua vida. 

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Eu não sou uma pessoa que só fala sobre isso, não é o meu propósito. Se alguém precisar de mim, se eu puder falar, se alguém precisar do meu depoimento e da minha opinião, da minha história, eu vou estar ali para contar. Muitas vezes tem coisa que a gente não sabe e que só vai saber vivendo, mas eu posso ajudar a  encurtar o caminho dessas pessoas por algum motivo. 

Nada é por acaso na vida. Eu não tive um câncer nova, sendo uma pessoa pública, que lidou com beleza a vida inteira, à toa. O mínimo que eu posso fazer é dividir a minha história. Mas não é uma coisa de obsessão. É só uma coisa que eu faço com o maior prazer e carinho para ajudar as pessoas porque tem que ser assim. 

Fernanda Motta Boa Forma
(Adilson Santos/BOA FORMA)

Falando em corpo e na relação com o corpo, hoje em dia, o que você prioriza, quando o assunto é exercício físico

Eu tenho feito pouco exercício. Sempre fiz muito aeróbico, caminhada, eu sou muito mente e corpo, tudo junto. Caminhada rápida, endorfina e o pensamento, era uma terapia, junto com o exercício. E eu sempre fiz pilates, a vida inteira. 

Antes da pandemia, eu operei a coluna, teve o tratamento de câncer, e, depois dos 11 meses de quimio, eu ainda fiz operação, fiz quimio oral… Aí, voltou tudo a acontecer e eu voltei mais ou menos. Não estou muito ativa, mas eu tento fazer o máximo que eu posso. 

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Continuo fazendo pilates duas vezes por semana. Se eu posso ir uma vez, eu vou. Não sou o tipo de pessoa que viaja e fica fazendo exercício na viagem. Eu gosto de cuidar do corpo por todos os motivos, eu gosto de me manter firme. O pilates faz um bem danado para a coluna, para me manter mais alegre, porque todo exercício faz com que as pessoas produzam endorfina. Eu gosto muito de fazer exercício, do bem-estar mesmo, que no final você fala “que delícia, foi ótimo!”. Ele está ali presente. 

Fernanda Motta Boa Forma
(Adilson Santos/BOA FORMA)

E como é a sua relação com a alimentação? Pode falar um pouquinho sobre? 

Eu não sou muito de doce, nunca fui, eu não tenho o costume. Eu gosto muito de comer comida de verdade: arroz, feijão, frango, legumes, empadão, comida de casa. Sou muito da comida de casa! Sou louca por japonês, como muito. 

Eu como muito. Mas eu como bem! Eu não como muita besteira, não sou muito do cachorro-quente, essas coisas… Minha alimentação pode ser considerada muito boa. Eu sou uma pessoa que gosta de comer. 

Como uma mulher 40+, modelo e apresentadora, o que você prioriza quando o assunto é cuidado com a pele? 

Eu sempre fui uma pessoa que cuidou da pele, a vida inteira, mesmo quando não tinha condições financeiras. Eu sempre entendi sobre pele sentindo, e muitas coisas na minha vida me comprovaram isso o- que a pele da gente precisa de muita hidratação, interna e externa. 

Eu estou com 41 anos e me considero uma pessoa que está muito bem, porque eu me preveni. E tudo na vida, quando se previne, se está um passo à frente. Eu amo tudo que tem a ver com cuidado de corpo e pele, nunca fui muito de pegar sol.

A mala vem quase um peso a mais só de creme que a gente traz! Obviamente, se você pegar menos sol, a sua pele não fica tão “esturricada” e, você pode ver, tudo o que eu já li, estria, ruga, é quando a pele estica e não tem elasticidade para voltar. Eu acredito que se manter a minha pele hidratada, ela não vai esticar com força, e eu fiz isso a vida inteira, desde novinha eu tenho esse pensamento. Está funcionando! Para uma pessoa que tem 41 anos, era para eu estar bem mais acabada, e eu acho que estou super bem, porque a prevenção e a hidratação são partes essenciais desse cuidado.  

Fernanda Motta Boa Forma
(Adilson Santos/BOA FORMA)

Voltando um pouquinho a conversa para bem-estar, qual foi e tem sido o papel da sua família na sua trajetória até agora? 

A minha família e os meus amigos foram essenciais em todo esse trajeto, o Roger [Rodrigues, seu marido], o pai da minha filha, todo mundo que conviveu comigo todo esse tempo… Eu acho que eles foram essenciais pelo simples fato de entenderem muito bem o que eu queria e precisava, desde quando eu operei [a coluna]

Eles entenderam e respeitaram o meu jeito de pensar. Eu sempre acreditei que a gente não pode se abalar ao ponto de interferir num tratamento, no nosso bem-estar, no nosso viver. Mesmo na operação da coluna, depois na quimio, eu sempre deixei bem claro que não queria ninguém sofrendo. Eu precisava que todo mundo estivesse muito bem e positivo e acreditando, isso, para mim, era muito importante. Eles tiveram um papel perfeito, primeiro, porque estavam sempre comigo. Segundo, porque estavam fazendo a mesma coisa que eu, vivendo a vida, curtindo, viajando… Muitas vezes eu nem avisava, ia sozinha fazer o tratamento e voltava. Não é supermulher: de novo, cabeça, corpo, ambiente, tudo tem que estar no mesmo nível de energia, de certeza. 

Se todo mundo estava bem, achando que ia dar certo, não tinha motivo para não dar. A gente fez tudo, viver tudo que tinha que ser vivido, que é uma coisa que eu falo muito pras pessoas que estão vivendo esse momento difícil: a chance é muito maior quando os seus familiares acreditam. 

Você está fazendo um tratamento muito sério, aí as pessoas olham para você chorando. Automaticamente você fica mal, aí, vem o problema da cabeça, e a cabeça vai regendo todas as células que deveriam estar contentes para combater as células doentes. 

Meus pais, amigos, todo mundo da minha família foram muito respeitosos e entraram muito na onda comigo e isso deu muito certo. Eu fazia quimioterapia fazendo fofoca! Não é um mar de rosas, mas isso ajudou muito, e ajuda muito. Família, quando ela é positiva, é essencial. 

Fernanda Motta Boa Forma
(Adilson Santos/BOA FORMA)

Vamos falar de carreira? O que você tem em mente para o futuro?

Nossa! Tem tanta coisa acontecendo! As pessoas perguntam: o que você tem para fazer? Todo mundo está cheio de planos, mas eu realmente estou passando por uma fase com muitos planos e avaliações. O segundo semestre vem bem forte, com várias novidades, com comunicação, que é uma coisa que eu quero fazer, muita coisa relacionada ao câncer de mama, no sentido de apoiar várias causas. 

Tem uns projetos que estão praticamente fechados, tem os meus contratos, porque, graças a Deus!, eu consegui ter os meus clientes leais que nunca me largaram, com muita agenda para cumprir. Do meio de agosto pro final, eu estou super cheia! Eu estou voltando bem com a moda, porque eu quero voltar, eu gosto muito de fazer e a moda mudou muito. O mercado mudou, eu estou me adaptando a essa forma nova de fazer moda. Eu vou fazer muita coisa de lançamento de marca, o que também é muito legal. Vou fazer semana de moda de Milão, de Paris, fiz Cannes, AMFAR, agora vamos fazer UNICEF, amanhã, com a Jennifer Lopez, em Capri. To voltando com tudo! 

Fernanda Motta Boa Forma
(Adilson Santos/BOA FORMA)

Aproveitando… por conta da profissão, você ainda se sente pressionada a estar sempre bonita ou com o corpo em forma? Como lida com isso?

Toda mulher, em qualquer situação e profissão, se sente um pouco pressionada. Hoje em dia, as coisas são muito complicadas por uma questão óbvia que é a internet: as pessoas são muito julgadas e começaram a se prender muito nessa parte física. 

Ultimamente eu estou vendo muito essa busca da perfeição — que não existe, porque o que pode ser bonito para mim não é para você! Eu sempre trabalhei com beleza, sempre fiz grandes trabalhos relacionados a beleza e eu sempre tive que cuidar. Eu vivo disso e sempre cuidei muito disso, só que eu sempre me amei muito, sempre tive muita fé e busquei me olhar no espelho e gostar do que eu via. 

A minha busca por estar bem é mais para mim do que para os outros. Muitas vezes, quando a gente ouve uma coisa que a gente não gosta, toma isso como pessoal, mas eu estou trabalhando muito a cabeça e conseguindo fazer isso de um jeito bem legal. O importante é como eu estou me sentindo por dentro e como isso se apresenta para fora. 

Claro que eu cuido de mim, eu busco estar sempre bem. Hoje em dia as mulheres de 40 anos, são mulheres de 40 anos! Lindas e maravilhosas! Eu não tenho esse peso, porque eu acho que a cobrança não vem mais nem da idade, mas da criação das pessoas. 

Eu me cobro porque eu gosto de me ver bem, eu gosto do conforto. A cobrança de estar bem, bonita, bem cuidada, é uma cobrança minha que sempre vai existir. Mas é para mim, porque eu acho que beleza vem muito de dentro.

A busca da beleza eu não tenho, mas eu tenho consciência que sou uma pessoa abençoada. É um equilíbrio de me cuidar e envelhecer bem – não no sentido de velhinha, é amadurecer, passar os anos bem, com saúde. 

Fernanda Motta Boa Forma
(Adilson Santos/BOA FORMA)

 

FOTOS: Adilson Santos
BELEZA: Patrick Guisso
STYLING: Thiago Biagi

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