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Como foi passar dois dias com um celular à prova de distrações

Deletar aplicativos de redes sociais, esconder joguinhos viciantes… Nossa colaboradora conta como foi a experiência

Por Marcela De Mingo
29 dez 2021, 08h00
celular à prova de distrações
 (cottonbro / Pexels/Divulgação)
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Há alguns meses, encontrei pelas minhas andanças na internet um texto muito interessante, em inglês, escrito pelo Jake Knapp, autor de “Faça Tempo” (Ed. Intrínseca). Nele, o autor explicava como tinha “um celular sem distrações” há seis anos. Como eu mesma estava lidando com muitas distrações geradas com o meu celular, cliquei para ler. 

No texto, o Jake explica que tirou do seu celular todos os aplicativos que possam gerar algum tipo de distração ao longo do dia – e que, inclusive, ele teria no telefone com a desculpa de serem ferramentas de trabalho. Instagram, Twitter, Facebook e TikTok são aplicativos deletados sem pensar duas vezes. Até aí, tudo bem. Depois, vem o mais complicado, segundo a minha interpretação do texto: aplicativos de mensagens como o WhatsApp e de e-mails. 

Ainda assim, considerando os últimos dois anos e o aumento do uso do celular e das redes sociais de forma generalizada (a pesquisa TIC Domicílios 2021 diz que o Brasil chegou a mais de 150 milhões de usuários de internet, um aumento de 12% em relação a 2019), senti que seria um bom momento para fazer o teste. 

O primeiro ponto, como diz o Jake no artigo, é o porquê. Por que ter menos distrações no meu celular? A resposta óbvia foi: porque eu passo tempo demais vendo o trabalho dos outros e deixando o meu de lado. A procrastinação é grande e era fácil eu entrar no Instagram para fazer uma postagem de trabalho e passar 20 minutos scrollando o feed ou vendo Stories antes de, de fato, fazer o que eu precisava. 

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Mesmo quando estava concentrada em alguma tarefa, via um desejo incontrolável de entrar no Instagram ou no Twitter no meio do caminho – e lá se vão mais 20 minutos. Na busca por uma rotina de trabalho mais saudável, assim como uma saúde mental mais sustentável, pensei que seria um bom momento para me distanciar de vez desses vícios. 

Como foi passar dois dias com um celular sem distrações

Como disse acima, eu trabalho também com redes sociais, o que significa que deletar permanentemente o Instagram, por exemplo, não seria uma opção naquele momento. O que eu fiz, então, foi tirar o aplicativo da minha tela inicial e deixá-lo “escondido” no arquivo de aplicativos do meu iPhone. Fiz o mesmo com o TikTok e o Pinterest. Já não tinha o Twitter no telefone há alguns meses, mas decidi fazer o mesmo com o aplicativo do Safari, porque era comum acessar o Twitter por lá. 

A página “inicial” do meu iPhone ficou com apenas alguns aplicativos: o clima, o WhatsApp, o Spotify, a câmera, o aplicativo do banco e a agenda com os compromissos do dia. Na barra de baixo, o telefone e o e-mail (não, eu não deletei o e-mail). 

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Em minha defesa, nunca fui de olhar muito o e-mail no celular, sempre fiz isso pelo computador, por isso, senti que tudo bem. Não tenho aplicativos de jogos nem de notícias, o que também facilitou essa limpeza. Netflix, no entanto, foi um dos apps deletados, já que raramente via alguma coisa pelo celular (eu prefiro o computador porque sou muito míope e a tela é maior). 

O resultado foi o seguinte: no primeiro dia (fiz a limpeza pela manhã) percebi que eu esqueci do Instagram muito mais facilmente. Não ter o aplicativo à vista ajudou muito, eu tinha que procurá-lo na busca do celular para acessá-lo. Isso facilitou a minha vida ao mesmo tempo que liberou um espaço imenso na minha mente. Acho que o resultado mais palpável disso foi em relação à bateria: precisava colocar o celular para carregar todas as noites, às vezes também durante o dia. Dessa vez, ele chegou à hora de dormir com mais de 50% de carga restantes. 

Outra coisa que fiz foi tirar as notificações do WhatsApp, já que não poderia deletá-lo. No Brasil, ele é uma ferramenta de trabalho muito forte e isso não deixa de ser fato para mim. Por isso, silenciar as notificações me deu uma sensação de mais controle – e o melhor, eu não parei a cada cinco segundos para olhar a tela do celular toda vez que chegava uma nova notificação. 

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Me senti com mais poder, porque eu tinha que ativamente abrir o aplicativo para ver novas mensagens ou acessá-lo pelo computador. Ou seja, o tempo de foco foi muito mais produtivo do que antes. 

Ainda assim, me peguei em velhos hábitos, às vezes pegando o celular no meio do caminho e rolando as páginas até chegar naquela onde o Instagram ficava, só para não achá-lo lá. Como não tinha mais nada interessante para ver, colocava ele de volta na mesa e voltava a trabalhar. 

Percebi que fiquei menos preocupada com o feed e menos distraída ao longo do dia. Tanto que o experimento, que deveria durar um dia, durou dois, mas pretendo manter o meu celular assim o máximo que puder. 

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A internet é, com certeza, um facilitador, mas também pode ser uma fonte de distração e ansiedade muito grandes. Considerando que alguns estudos dizem que 76% dos brasileiros com acesso à internet interagem com as redes sociais todos os dias, me senti como no documentário O Dilema das Redes, da Netflix, que diz como nos tornamos escravos de ferramentas projetadas para prender a nossa atenção. Trabalhar com internet há 10 anos, além de produzir conteúdo para as redes sociais também não ajuda a diminuir o vício, então, o respiro tem sido mais que bem-vindo. 

Quatro dicas para quem quer um celular menos distrativo

Usando o texto do Jake como referência e a minha própria experiência, aí vão algumas dicas essenciais para quem busca um celular menos distrativo: 

1.Não deixe aplicativos viciantes a vista: jogos, redes sociais podem ficar escondidos de você mesmo no arquivo de apps do seu celular e não nas telas iniciais.

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2.Se possível, desligue as notificações: será que você precisa saber sobre cada like que uma foto sua recebeu no Instagram? Desligar notificações é uma ótima forma de diminuir as distrações.

3.Reserve tempo para scrollar: se você realmente quer passar um tempo nas redes sociais, pode reservar um tempo na agenda para isso. Foi o que eu fiz, com 15 a 20 minutos por dia para checar as redes da Boa Forma para ver se tudo estava como eu programei. O resto desse tempo, se sobrasse, eu usava para ver o meu próprio perfil. 

4.Avise as pessoas: uma coisa que sempre fiz é avisar contatos profissionais que só respondo mensagens de WhatsApp em caso de emergência, caso contrário, todo contato deve ser feito por e-mail. Hoje em dia, esse aplicativo tem mais mensagens de amigos do que de trabalho (apesar de ainda ser usado assim), o que eu vejo como uma grande vantagem.

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