Comer para não surtar
Sou cafezista! Esses dias aprendi que este é o adjetivo para pessoas que gostam muito de café. O cheiro do pó sendo moído, a sensação acolhedora da fumaça enquanto passa pelo filtro, o sabor forte. Gosto sem adoçar mesmo.
Além de uma paixão, o café também funciona como um sinal de alerta para mim. Quando perco o freio e entro em uma espiral de estresse e sobrecarga, um importante alarme é o número de xícaras que passo a tomar, uma atrás da outra, sem sentir o cheiro ou apreciar o gosto.
Alimento, assim como tudo na vida, é informação para nosso cérebro. Quando nos comemos com os nutrientes que o corpo precisa, o cérebro entende que estamos seguros e mantém o organismo funcionando em equilíbrio. Por outro lado, se colocamos para dentro muita comida mas pouco nutriente, um alerta soa lá dentro da cabeça e o corpo todo passa a funcionar no esquema de ameaça – luta ou fuga, também conhecido como resposta de estresse.
Não sei você, mas quando eu estou estressada ou ansiosa, eu não vou na cozinha comer um brócolis! Eu ataco mesmo é um monte de brigadeiro, além do café.
Tudo bem, brigadeiro é gostoso e tem carboidrato e gordura, que além das proteínas são os macronutrientes que o corpo precisa. Mas essa deliciosa bomba de chocolate não tem substâncias que são fundamentais para o funcionamento de todos os processos dentro do seu corpo: os micronutrientes, que são basicamente os minerais e vitaminas. Adivinha onde eles estão? Te dou uma chance e tenho certeza que você vai dizer: no brócolis!
Sim, todos os legumes, vegetais, frutas e castanhas são ricos nos micronutrientes que o corpo precisa para ligar enzimas que produzem substâncias como a Serotonina, neurotransmissor do bem estar e a Melatonina, que nos faz dormir bem. Imagine que quando estamos estressados o corpo e o cérebro estão trabalhando na sua capacidade máxima. Não é difícil prever que eles precisam também do máximo de condições para funcionar. No momento em que mais precisamos de micronutrientes, o que a gente faz? Deixa de consumi-los! Trocamos frutas por doces, vegetais por fast food cheia de fritura e açúcar.
Assim entramos em um looping de estresse, alimentação ruim, que vira informação de mais estresse. Não bastasse este ciclo, os alimentos ultraprocessados, esses todos empacotados e cheios de aditivos, junto com os adoçantes artificiais, têm uma diversidade de componentes químicos que matam as bactérias boas que vivem em nosso intestino. A disbiose, essa mudança da flora intestinal causada por uma alimentação ruim, também é interpretada pelo cérebro como mais ameaça, fazendo com que o estresse fique ainda maior.
Quando pensamos em aliviar o estresse, três pilares são fundamentais.
1O primeiro deles é reconhecer o estresse, quais situações te estressam e como o estresse se manifesta no seu corpo. Para mim, aumentar o consumo de café é um sinal. E para você? Já pensou sobre isso?
O segundo pilar é fazer com que seu corpo saiba desligar a resposta de luta ou fuga e podemos fazer isso ligando uma outra resposta, a de relaxamento. Atividades que nos tragam a sensação de segurança e calma. Fazer uma lista delas e colocar com mais frequência na sua rotina, ajuda a trazer o organismo com mais facilidade para o equilíbrio após uma situação estressante.
3O terceiro pilar são as estratégias de adaptação, ou seja, cultivar uma base mais estável para aqueles momentos em que lidar com situações estressantes é inevitável. Aqui podemos pensar em manter nossas relações mais significativas, desenvolvermos a espiritualidade, manter a terapia em dia, mas também deixar o corpo mais resistente, através de exercício, sono e comida, é claro!
Se você quer desestressar, pode começar pela boca! Talvez seja difícil largar o brigadeiro de cara, então comece aumentando a variedade de frutas, legumes, vegetais e castanhas no seu prato. Ofereça ao corpo o que ele precisa para trabalhar e você vai perceber que aos poucos a vontade insaciável de devorar tudo o que você vê pela frente diminui. Para mim fica bem claro que quando volto o olhar para alimentação e ofereço o que meu corpo precisa, a compulsão desenfreada por café diminui e volto a tomá-lo com calma, saboreando, pelo simples fato de que gosto.
Vou te fazer um convite para refletir, agora que você já sabe que comida é informação: na sua próxima refeição, como seria um prato para realmente aliviar o estresse?