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Nutrição sem restrição, com Marina Nogueira

A nutricionista Marina Nogueira, do @naocontocalorias, fala sobre alimentação, comportamento, ciência e saúde
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O corpo pós-parto

Por Marina Nogueira
17 Maio 2022, 21h29
Mulher treinando com bebê - fortalecer o abdômen depois da gravidez
 (IuriiSokolov/Thinkstock/Getty Images)
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Enquanto andava pela livraria ou pesquisava na internet livros que falavam sobre educação infantil, amamentação e educação positiva, Camila nunca podia imaginar que um conteúdo faria tanta falta: aquele que fala sobre o corpo pós parto.

A alimentação de Camila sempre foi complicada, um eterno engorda emagrece, sempre tentando estar num peso x ou com um corpo y. Assim que engravidou, aos seus 35 anos, depois de algumas tentativas frustradas, foi tomada pela alegria de ver o teste positivo e entender que a partir dali sua vida nunca mais seria a mesa. Entrou em grupos de discussões no facebook, seguiu perfis no instagram, comprou livros, conversou com amigas. Seguiu religiosamente os conselhos nutricionais, tomou os suplementos, fez fisioterapia pro parto, ensaio fotográfico, chá de revelação e tudo mais que tinha direito. Como nunca havia feito, exibiu sua barriga, passou cremes, loções, óleos. Subia apreensiva na balança do médico, e conseguiu se manter na faixa dos desejados 10kg até o fim da gravidez.

Assim que Artur nasceu, o puerpério veio varrendo a plenitude da amamentação. E junto com ele, a dificuldade de amamentação: corre com consultora, enfermeira, médico… dá-lhe peito de fora, folha de repolho, sol, creme de lanolina… Afinal, ela precisava amamentar Artur. De qualquer jeito. Uma amiga, mãe de 3 filhos, disse que era normal, e que não seria o fim do mundo caso ela precisasse complementar ou até trocar para a fórmula. Que isso não a definiria como mãe. Mas Camila tinha a resposta pronta: “mas é que amamentar emagrece muito”.

Quando uma mulher engravida, assim como Camila, ela percorre um imenso mar de informações sobre maternidade, mas pouco se discute sobre as possibilidades do corpo pós parto. Não falamos, por exemplo, sobre a representação mental que cada pessoa faz do seu próprio corpo. Esses julgamentos subjetivos que fazemos a respeito da nossa aparência chamamos de imagem corporal.

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A nossa imagem corporal não é idêntica ao corpo real, e é construída através de informações que começamos a receber desde a infância: críticas sobre o peso, reforços sobre a importância da aparência, a expectativa da magreza, o corpo das modelos e musas das mídias… tudo isso compõe, de maneira individual e coletiva, o padrão de beleza. Esse padrão não respeita, por exemplo, a transformação que o corpo feminino atravessa durante e depois de uma gestação. Quer ver um exemplo? Quantas atrizes e modelos, ainda no puerpério, já tiveram suas barrigas pós parto noticiadas por aí?

O corpo da grávida se transforma de maneira inevitável. O peso não apenas sobe, como o quadril se alarga para a passagem do feto, a musculatura abdominal distende e o tecido mamário aumenta para o aleitamento. E essas estruturas nem sempre voltam para o aspecto original – muito menos acontecem em tempo recorde. Se você demora 40 semanas para formar um bebê, porque em 40 dias sua barriga teria que ser a mesma?

Educar as mulheres para entender as mudanças biológicas e emocionais que o corpo atravessa é essencial para que elas possam decidir o quanto irão sofrer a respeito – e quanta energia será gasta para mudar a situação.

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Não existe ganho de peso ideal

É quase óbvio – e bastante razoável – que o ganho excessivo de peso provocado por uma alimentação excessiva é desnecessário, e pode até fazer mal para o bebê e para a mãe. Mas isso não significa que o correto seja engordar apenas 1 kg por mês – a avaliação do ganho deve ser feita com base em outros dados, como o índice de massa corpórea (IMC), e analisado caso a caso.

O ganho da gravidez não determina o sucesso da perda no pós parto

Algumas mulheres engordam menos mas depois não conseguem reduzir o peso. Outras, engordam mais e tem facilidade de voltar ao peso anterior. No parto já acontece boa parte da perda – Segundo a Mayo Clinic, em média 6kg são eliminados naquele momento, através da saída do bebê, placenta e líquido amniótico. O restante vai depender de outros fatores, sobretudo alimentação e atividade física.

Amamentar não é garantia de emagrecimento

Existe uma idéia geral de que o aleitamento provoca perda de peso certeira. Mas isso não é uma verdade: como a amamentação aumenta nosso gasto energético, com uma dieta nutritiva e equilibrada você pode sim provocar a redução. Mas esse gasto energético somado a privação de sono pode aumentar a fome em algumas mães, e o balanço calórico ficar positivo. Ou seja: algumas mulheres até engordam enquanto estão amamentando.

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Dê tempo ao tempo – e compreenda as mudanças que ele oferece.

Independente do aleitamento ou não, a perda de peso pode demorar entre 6 a 12 meses. Entendo que algumas mulheres retomam o número da balança antes, e outras podem demorar até mais. Compreender que os quilos perdidos nem sempre representam o corpo anterior é importante: caso contrário, você pode se manter eternamente numa restrição onde nada satisfaz, nem o alimento, nem o corpo, nem a balança.

Aproveite seu bebê para mexer o seu corpo

Se dedicar a uma atividade física orientada é ótimo e ajuda (nada de cair no papo de que lactante não pode fazer exercício, hein?). Mas não se desespere se não está conseguindo encaixar na rotina. Aproveite para fazer longas caminhadas enquanto o bebê dorme no carrinho, carregue-o no canguru e use esses momentos para se exercitar de maneira mais intuitiva. Você já está cheia de demandas, muitas incompletas. Faça o que dá para ser feito de cada uma, o perfeito, nesse momento, está nos detalhes.

Se questione

Se você está trilhando o caminho da gestação, te convido a pensar em algumas perguntas: É liberdade quando a vontade se baseia na expectativa externa? Porque o corpo tem que voltar para um tamanho, peso e formato, que corresponde a uma vida que não existe mais? Se a vida se transforma, o corpo não deveria acompanhar essa mudança?

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A Camila, da nossa história, poderia ter tido uma vida pós parto mais suave se tivesse se informado sobre esses detalhes. Agora, ela está correndo atrás de suporte emocional e nutricional – e não tenho dúvida que com um bom acompanhamento ela chegará num resultado satisfatório. Mas um dia Camila me falou, durante uma consulta: imagina quanto tempo de qualidade eu perdi com Artur porque estava preocupada com os meus velhos 62kg?

Espero que todas as gestantes, atuais ou futuras, consigam encontrar o mínimo de paz nesse processo. Amar o corpo não é se idolatrar o tempo todo, mas sim compreendê-lo e enxergá-lo não como parte isolada, mas como meio de transformação das nossas vidas.

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