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Usar alimentos no cabelo: mais riscos que benefícios

Receitas caseiras com mel, abacate e azeite são sucesso na internet e prometem um cabelo mais forte, mas será que seu uso é seguro?

Por Amanda Ventorin
Atualizado em 8 Maio 2024, 09h44 - Publicado em 6 out 2021, 13h00

Muito se discute sobre o uso de alimentos para fins estéticos: receitas caseiras com mel, abacate, azeite entre outros são sucesso na internet e prometem um cabelo mais forte, bonito e brilhoso de maneira barata e acessível. Mas será que seu uso é seguro?

EFICÁCIA DE UTILIZAR ALIMENTOS NOS CABELOS

“Até o ano de 2013, [cuidar do cabelo] remetia aos cuidados herdados das avós e das mães que cuidavam dos fios com alimentos in natura”

Muitos produtos industrializados possuírem ativos provenientes dos alimentos que encontramos em nossa cozinha — quem nunca comprou um shampoo com extrato de abacate para hidratar os fios?

Logo, você pode pensar que o melhor é cortar o caminho e ir direto para a fruta, certo? Na verdade não.

A penetração dos agentes ativos dos alimentos in natura no fio de cabelo é muito fraca, ou nenhuma, devido ao tamanho grande de suas moléculas.

Mulher com cabelo cacheado mexendo no mesmo enquanto sorri
(COROIMAGE/Getty Images)

A DIFERENÇA DOS ATIVOS NOS COSMÉTICOS

Se aquele seu abacate e azeite que estão na cozinha não ajudam os fios, por qual motivo vemos tantos produtos nas lojas de cosméticos com esses ativos?

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Carolina Milanez, dermatologista especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, explica que a indústria cosmética investe em uma tecnologia de cargas elétricas, quebrando o tamanho das moléculas de seus componentes para que haja uma estabilização dessas cargas dos fios (o que deixa os cabelos com menos frizz). Com o tamanho adequado das moléculas, é possível que o ativo penetre as mais profundas camadas, resultando em nutrição, reconstrução e hidratação superiores a produtos que atingem apenas a camada mais superficial. 

E as cacheadas?

A cabeleireira Samantha Cunha, que em sua página no Instagram fala muito sobre cuidados com cabelos naturais e em transição, conta que a realidade de máscaras caseiras como única alternativa de cuidado para as cacheadas não é mais plausível.

“Até o ano de 2013, o Brasil não contava com grandes marcas de cosméticos interessadas no bem-estar da mulher de cabelo natural. Fazer a transição capilar e voltar ao estado natural do cabelo remetia aos cuidados herdados das avós e das mães que cuidavam de seus cabelos naturais com alimentos in natura”, conta. “Hoje, existem produtos de alta performance e tecnologia capazes de entregar resultados infinitamente superiores em comparação aos do passado. O mercado mudou!”

RISCOS DE UTILIZAR ALIMENTOS NOS CABELOS

Além de não ter eficácia, alguns alimentos podem até mesmo prejudicar o seu cabelo.

O azeite encontrado nos supermercados não tem função cosmética, já o mel vendido tem altos índices de açúcar na composição e o abacate puro não consegue adentrar a fibra capilar”, conta Samantha Cunha, cabeleireira especialista em corte e colorimetria em cabelos ondulados, cacheados e crespos. Todo esse excesso, quando não retirado corretamente pode até beneficiar a proliferação de fungos e bactérias na sua cabeça.

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Outro perigo dos procedimentos caseiros é o risco de alergia. O vinagre (usado muitas vezes com a proposta de dar brilho e diminuir o frizz), por exemplo, por ter uma acidez intensa, pode acabar ressecando os fios e causar dermatite, se entrar em contato com o couro cabeludo.

No menor dos problemas, o que o uso de alimentos pode causar são fios opacos, sem brilho. Resultado de resquícios dos alimentos não removidos por completo.

E OS ÓLEOS VEGETAIS?

O artigo científico “Influência de óleos vegetais brasileiros na resistência mecânica da fibra capilar” explica que os óleos tem a função de lubrificar e preencher pequenas fissuras na cutícula capilar, ou seja, na parte externa do fio.

“Eles formam um filme na superfície do cabelo que ajuda a selar as cutículas e manter a água dentro do fio. Ao contrário do que muitos pensam, eles não tem a capacidade de hidratar e sim de não deixar que o fio perca a sua própria hidratação. Já o óleo de coco, por conter moléculas menores é o único com capacidade de penetrar na haste capilar e com isso, tem ainda o benefício de evitar a perda de proteínas. Por isso é dos preferidos quando o assunto é cabelo. Mas os óleos de abacate e de oliva também são boas opções para umectação ou adicionar as máscaras”, recomenda Paula Amorim, dermatologista responsável pelo núcleo de tricologia, da Clínica Juliana Piquet.

“Porém, eles sozinhos não conseguem tratar o córtex e, portanto, não substituem o uso de máscaras de tratamento“, completa Samantha.

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Além disso, seu uso também não deve vir do produto da cozinha. “As umectações com óleos devem ser feitas com óleos puros prensados a frio e com fins cosméticos. Pode ser óleo de abacate, cártamo, macadâmia e até mesmo o de oliva e coco.”

INVISTA NOS ALIMENTOS — NA DIETA

alimentos posicionados sobre fundo amarelo
(Kalisson/Getty Images)

Existe um jeito certo para que os alimentos ajudem na sua saúde capilar: através da ingestão! Investir em produtos apropriados não adianta de nada se a maneira como você se alimenta não está correta.

Primeiro de tudo: hidrate-se. Um bom consumo de água ajuda a todo nosso organismo funcionar melhor e com toda certeza seus cabelos irão se beneficiar disso.

Não adianta comer tudo que é necessário para manter um cabelo lindo de dentro para fora se a absorção intestinal não estiver íntegra.

“Ingerir alimentos ou suplementos específicos é importante mas, se não são absorvidos, saem pelas fezes e não fazem o trabalho que precisa ser feito. Por esse motivo é de suma importância observar o funcionamento do intestino, a integridade das fezes e estar atento a sintomas de disbiose ou alguma síndrome que atrapalhe a absorção”, conta a nutricionista Camilly Gabry Houaiss.

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Manter níveis adequados de ferro no organismo é de extrema importância e, segundo a profissional, na hora de consumir é importante otimizar a digestão e absorção com fontes de vitamina C como laranja e acerola.

Aumente a ingestão proteica. Uma dieta pobre em proteínas ou muito restritiva pode prejudicar muito o crescimento saudável dos fios.”

O zinco, contido na semente de abóbora, feijão, amêndoas e amendoim, tem função primordial para o crescimento dos fios. “Mas é preciso pensar também no couro cabeludo e não só no fio, portanto, uma alimentação rica em antioxidantes, vitaminas A e C pode influenciar positivamente além de evitar a queda e a despigmentação. Biotina, cálcio, vitamina B12 e vitamina E também estão envolvidos no processo de saúde capilar”, finaliza.

COMO CUIDAR DO CABELO EM CASA

mulher mexendo nos seus cabelos
(Halfpoint/Getty Images)

Agora que você vai deixar o abacate e o ovo onde devem estar (na cozinha, bem longe do seu cabelo), há alguns fatores importantes que devem ser considerados na hora de cuidar da saúde dos fios, sendo o primeiro deles o couro cabeludo:

Segundo Carolina, ele deve ser muito bem higienizado através das lavagens (Não se esqueça que o acúmulo de produtos e sujeira no mesmo pode afeitar negativamente o crescimento e saúde dos fios). Mas, diferente do que muita gente pensa, não há um número mágico que determina a quantidade de lavagens que uma pessoa deve fazer por semana. Ele muda para cada um e depende da característica do tipo de cabelo que cada pessoa possui. Oleosidade, ressecamento, dermatite seborreica, química devem ser levados em consideração.

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“Para cabelos muitos danificados, ressecados ou crespos, minha orientação é de lavar pelo menos a cada 7 dias”, diz Carolina.  “Indico também o uso de shampoo anti-resíduos a cada 15-30 dias”. 

Para completar, de uma a duas vezes na semana, usar uma máscara capilar que tem um poder hidratante maior, ficando atenta pois algumas máscaras precisam ser complementadas com condicionador após o uso.  “Não indico como rotina usar secadores e pranchas. Mas quando for usar, o ideal é aplicar um protetor térmico nos fios antes” ressalta a dermatologista. 

Negra Li: estrela da capa de outubro da Boa Forma
Negra Li: estrela da capa de outubro da Boa Forma (Patty Lima/BOA FORMA)

Esse especial faz parte da edição de outubro de 2021 de Boa Forma,
que traz a cantora Negra Li em sua capa. 
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