Dois anos atrás, o Brasil e mais 30 países ao redor do mundo participaram da campanha Stop Food Waste Day. A data tem o objetivo de conscientizar as pessoas a respeito do consumo mais consciente de alimentos e da redução do desperdício, um problema grave enfrentado atualmente.
Somente aqui no país, as famílias descartam, em média, 353 gramas de comida por dia, o que equivale a quase 129 quilos no ano. Os dados são do projeto Diálogos Setoriais União Europeia de setembro de 2018 e apontam, ainda, o arroz (22%), o feijão (16%) e o frango (15%) como os alimentos que mais vão para o lixo. Imagina quantos pratos não dá para encher com eles?
Por isso a importância de aproveitarmos ao máximo tudo o que pudermos das nossas refeições. “O ideal é fazer as compras de modo mais fracionado, uma vez por semana, em vez de ir ao supermercado uma vez ao mês. Desse modo, os grandes estoques são evitados e o desperdício também”, explica a chef e nutricionista Carina Muller, embaixadora da campanha, de São Paulo. Tente programar o cardápio semanal antes de partir para a feira.
Mas não é só isso que pode ajudar a evitar o desperdício no dia a dia. Sabia que muitas partes das verduras, legumes e frutas que a gente não usa podem ser consumidas e são boas fontes de vitaminas e minerais? Saiba quais:
Para colocar no suco verde:
As folhas escuras que vão na receita do tão querido suco verde não precisam ser só de couve-manteiga, rúcula ou espinafre não, viu? Vale sair pedindo na feira os verdinhos que os vendedores geralmente jogam fora, como a folha da beterraba. “É riquíssima em minerais, vitaminas, antioxidantes, compostos bioativos e fitoquímicos. As folhas de salsão são a mesma coisa e deixam um gostinho muito bom no líquido”, diz Carina.
Sem contar que os vegetais crus vencem os cozidos. “Quanto mais verdes a gente incluir na nossa alimentação, melhor. Principalmente na forma crua, porque os nutrientes não se perdem”, explica Carina.
E vai mais uma dica saudável: sabe aquela banana muito madura que sobrou na fruteira? Leve ao congelador. “Quando batida no suco, ela substitui o açúcar porque fica doce”, explica a nutricionista Valéria Paschoal, diretora do Centro de Nutrição Funcional, em São Paulo, e também embaixadora da campanha.
Para preparar um refogado:
A casca da cebola rende um bom e natural caldo de vegetais, muito superior aos que a gente compra em pó no supermercado. “Rica em quercetina, a casca é um antioxidante e anti-inflamatório poderoso. Você a coloca em uma panela junto com partes de outros vegetais (como a semente e polpa do tomate, talos de ervas) e ferve com água. O resultado é um caldo aromatizado pronto para o preparo de risotos, sopas, arroz…” diz Carina.
Outra boa receita para as folhas são os refogados. “A da batata-doce tem mais betacaroteno que o próprio tubérculo, enquanto a da couve-flor é rica em magnésio, que aumenta os níveis de serotonina no corpo (hormônio do bom humor), e em óxido nítrico, que ajuda a regular a pressão arterial”, explica Valéria.
Já a rama da cenoura chega a conter 630 miligramas de cálcio a cada 100 gramas, a mesma quantidade contida em 3/4 de litro de leite!
Quando jogar fora?
Quem tem o costume de mandar para a lixeira tudo o que começa a escurecer e amassar já pode abandonar a mania. Esses alimentos podem e devem ser consumidos e não perderam em nada suas propriedades por causa de um machucadinho (em alguns casos, pode até indicar que eles contém menos agrotóxicos do que os que estão conservados). “Mesmo se a aparência estiver muito desagradável, dá para apostar no suco, bolo ou refogado”, diz Carina.
E se você for passar um tempinho longe da cozinha, vale colocar tudo no congelador. “As frutas devem ser lavadas, higienizadas e congeladas em saquinhos individuais ou até em compotas. Já os legumes precisam estar branqueados (pré-cozidos no vapor, colocados imediatamente em água gelada para o choque térmico e depois peneirados) antes de irem para o freezer. Assim os nutrientes, as cores e as texturas permanecem por mais tempo”, explica Carina.
Receita zero desperdício
Com esse propósito, o chef Renato Caleffi, do restaurante Le Manjue, em São Paulo, e outro embaixador da campanha, compartilhou duas receitas com melão para começarmos a mudar o hábito de jogar saúde e sabor no lixo. Veja como prepará-las:
Sashimi de Melão
Ingredientes:
- 150 g de melão;
- 1 colher de sopa de sementes de melão limpas;
- 2 colheres de sopa de shoyu;
- 1 colher de chá de gengibre ralado ou batido com azeite e coado;
- Raspas de limão siciliano;
- 1 colher de sopa de suco de limão;
- Fios de azeite;
- Páprica e sal à gosto.
Modo de preparo:
Lave as sementes em água corrente e seque. Leve a uma frigideira para tostar, coloque uma pitada de páprica e sal. Corte o melão em fatias finas e disponha em um prato. Misture o suco do limão com o shoyo e regue por cima das fatias de melão. Salpique as raspas de limão e sementes por cima.
Maionese de ora-pro-nóbis
Ingredientes:
- 250 ml água ou leite vegetal;
- 20 g de sementes de melão assadas;
- 100 g de cambuci;
- 200 g de biomassa de banana verde;
- 1 colher de sopa de ora pro nobis em pó ou da folha fresca refogada;
- 1 punhado de nirá;
- 1 punhado de tomilho fresco ou alecrim;
- 50 g de azeite;
- Sal a gosto;
- Cominho em pó a gosto.
Modo de preparo:
Bata as sementes de melão com a água ou leite vegetal por alguns minutos até triturar. Coe e reserve. Bata o líquido com o cambuci e a biomassa de banana verde firme. Acrescente os demais ingredientes, bata tudo e acerte o tempero.